Retrato à viagem do sonhador

por rogério

– (com uma voz rouca do cachimbo milenário, que lhe augura a liderança) MARUJOS!
– Sim, meu Capitão!
– Eu prevejo nos meus ossos que esta é a nossa última viagem, a derradeira aventura que nos levará à fonte do manancial.
- O clima está frio Capitão. É difícil de acreditar bom tempo nos dias de vizinhança.
– Marujos! Qual é o lema?
– Eu Sou! Meu Capitão.
– Eu Sou o quê?
– Eu Sou o último dos destemidos navegantes nas ondas do perigo, embriagado incurável de tesouros por conquistar.
– Nunca se esqueçam disso. - As naus por construir aguardam comandantes, as mulheres na costa raiam o vosso chegar.
– O vento vira de Sul, Capitão.
– É a providência a nortear as velas. Âncoras a bombordo, temos terra marujos!
– Onde? Não vejo nada. – Eu também não. – Meu capitão, ninguém vê terra!?
– Acreditem, sinto-lhe o sabor a entranhar-me os poros. Preparem-se marujos, hoje jantamos em terra firme.

(horas depois)
– Capitão! Ainda não se vê terra!
– Não é por não se ver, que ela não está lá.
– Sim, meu Capitão.

(meses depois)
– Caro Capitão, os homens começam a pensar que estamos perdidos.
– Só está perdido quem não tem um rumo a seguir.
– E qual é o nosso rumo Capitão?
– Será que não consegues ver homem? Tudo faz sentido. Andar à deriva é o desígnio a resignar-se à obstinação. Nós estamos onde temos de estar. O dia ainda não acabou.

1 comentários:

Nuno A. disse...

o Conrad não escreveria melhor. Cá está a linguagem que auspicia a chegada dos renovados temporais épicos.

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