O retrato escondido

por Catarina

Porque hoje é o teu dia eu acedo finalmente ao pedido e volto a escrever. É um presente de palavras desembrulhadas com a leitura que fazes delas :)

O retrato escondido - Escrito por ..-.. Catarina val Mathias..-..

Na aurora do vigésimo sexto ano, do auto-denominado fruto do desígnio, venho em auxílio do seu carácter, para que a mancha toldada pelas palavras que me precedem acolham um raio de luz.

Poucos são os dias que tenho o prazer de poder manter a presença no espaço que ele investe de singular fascínio. Mas ao contrário do Nuno-Barão-Ferreiro de carícias afectuosas duvidosas, eu vislumbro antes uma aura de luar composta por Dvorák e com pinceladas dos últimos dias do querido Ludwig.

Os intuitos das analogias de tempos findos, são na procura mentalíssima do justificar uma existência, investida de momentos livres de estigmas sociais. Não é tão altivo nem tão selvagem ou pretensioso. Olhando-o com um pouco mais de atenção, ver-se-á, a ternura de um olhar que desviará logo que reconhecido, uma meiguice de alento se não estiver mais ninguém a observar a candura de que é capaz.

Toda a máscara lhe descai quando apaixonado. Não mais se amantiza a esses carbonários liberais, mantendo o negro faro alerta no meio do branquiçal diocesano, castrando sempre que necessário, as investidas pueris de velhos burgões moldes de um passado lógico num presente antiquado obtuso entorpecido da libertação da mente. E esse Dom que julgava ser rei é-lhe conferido a totalidade dos bens e confirmado ninharias para suplantar a derrota. Que se mantenha no exílio ou que venha servir as esquecidas hostes sulistas que lá ficaram a marinar o tédio de um ar veranil.

Não lhe vejo esse ar selectivo nas relações de carisma mais íntimo, se bem que se denota uma queda para o ar rebelde, para as deusas a meio caminho do ciúme desconfiadas arrebatadas e irracionais. Que imanam impaciência e uma sedutora mente, meio animal selvagem, meio expulsa do paraíso. Que transmitem em verbos expressões que poemas não conseguem definir através de palavras ou saltos de fé na plenitude do prazer-físico.

Não o vejo tão longe a conseguir os objectivos a que se prometeu. Mas compreendo a necessidade de o deixar ser livre. A mim ter-me-á até ao fim da lira poética, como sentimento, não obrigação ou entrave a todos os sonhos e anseios, que vai escrevendo e me deixa ler em pequenas doses, reservando sempre os seus segredos, numa característica sedutora e deliciosamente irritante.

2 comentários:

Nuno A. disse...

Escreves como uma menina.

Catarina disse...

Obrigada :)

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