Manifesto pró Diálogo de um devaneio imortal ao antro da estupidez humana ou A Exaltação dos Altos Valores Sublimes

por Nuno A.

Se ainda não leram a versão completa de A vitória silenciosa da eterna revolução…Aconselha-se aos internautas de água doce, aos banhistas de charco, aos velejadores de espuma, aos agricultores de rama, que o façam, sob pena de perderem uma oportunidade flagrante de se desembrutecerem de uma forma geral e em relação ao assunto específico de um modo particular.
Advertência: O manifesto abaixo apresentado refere-se à versão completa d’ A vitória silenciosa da eterna revolução.
A luz…
Certamente que muitos, ou pelo menos alguns, de vocês já se interpelaram pelo menos uma vez na vida, e em determinado mas fugaz momento, relativamente a algo que não correu conforme a lógica que tinham da vida. Estes momentos podem ser raros mas mais escassas são as vezes em que são bem interpretados, com o respectivo prejuízo para a evolução humana. Pois, porque se é com os erros que se aprende, e sendo a generalizada tendência perante tais acontecimentos, os ignorar, resulta que tal análise crítica não chega sequer a acontecer. Não obstante, existem momentos e intervenientes que nela ingressam. Mas também aqui o saldo dos que dão meia volta é esmagadoramente superior aos que seguem em frente, e tal como da morte ninguém regressou para contar, da mesma forma da iluminação não existiam relatos de sobrevivência. Desta maneira não se conheciam mapas para a análise crítica, que nos pudessem levar a atravessar o deserto, o que deixava antever a noção inevitável de que o caminho para a clarificação seria um trilho pessoal e autoconsciente, sendo inútil todo e qualquer utensílio humano, fosse ele científico, filosófico ou religioso. Mas eis que o improvável acontece e um peregrino assinando Catarina regressa de tal expedição ao mais alto cume do entendimento humano, às profundezas mais abismais da alma imortal e, realizando certamente uma viajem temporal, concede por momentos desterrar-se de tal excelso paraíso, apartar-se das mais dignas entidades e, talvez por mandamento divino ou quem sabe arbítrio absoluto, regressar para nos deixar, não formulas mágicas de transcendência, mas a prova irrefutável de que é possível a humano ser atingir tal altitude, dando assim e por si só um novo alcance à palavra esperança. Bem-haja mestre assinando Catarina.
A redenção em três passos…
Atendendo, contudo, que quem se iluminou iluminado está, voltemos a nivelar o discurso pela altura realista e desta feita talvez mais útil ao leitor médio de blogues. Para facilitar a visualização do ponto de partida, proponho o seguinte esquema simplificado:
[A] --------- (1) ---------> [B] ----------- (2) ---------> [C] --------- (3) -----------> [D]
Em que:
A – Vida quotidiana
B – Interpelação acidental ou provocada
C – Análise crítica
D – Transcendência
1, 2 e 3 – Transições

Dele retiramos que existem quatro estados (A, B, C e D) e três transições entre eles (1,2 e 3). Do funcionamento deste esquema importa reter por seu lado que:
I) Um estado não exige de quem o ocupa qualquer tipo de esforço para nele se manter ou dele usufruir, porque o mesmo é intrínseco ao ser que o ocupa;
II) As transições exigem o uso do livre arbítrio, quem dele não participar não poderá fazer qualquer transição na medida em que elas são as mais elevadas manifestações de liberdade;
III) Para que o ser participe do livre arbítrio precisa de se encontrar, ainda que de forma inconsciente, pelo menos momentaneamente livre de todo e qualquer lixo que estorve o seu discernimento, despido de modas portanto, preconceitos e outras sujidades, inclusive do pecado original.
Usando destas três noções é possível partirmos então para uma análise mais cuidada e consequente deste esquema, que poderá a partir de agora receber a denominação de A redenção em três passos.
As trevas…
A intenção deste manifesto pode ser entendida como uma tentativa de dar uma contribuição, ainda que humilde e medíocre (provavelmente desprezável), ao texto iluminado sobre a estupidez do autor assinando Catarina. Neste contexto começarei por situar o conceito de estupidez, muito bem definido e exemplarmente explorado pelo autor, no esquema acima apresentado. Depois aprofundarei as três transições e as suas características. Posteriormente irei procurar responder à pergunta: Poderá a estupidez alguma vez ser completamente ultrapassada? Deixando para último algumas considerações sobre estupidez e moral.Quando leio luz e trevas o que me vem por instinto, e talvez por isso ingénua e inocentemente, ao pensamento é: que se utiliza a primeira no singular (luz) enquanto que a segunda, mesmo em circunstancias de oposição à primeira, é dita globalmente no plural (trevas). E de verdade, por inspiração divina ou constatação empírica, o facto é que, simbolicamente falando, luz só existe uma, ao passo que a ausência dela se pode manifestar de muitas formas. Isto para dizer que à partida só existe, na redenção em três passos, um estado que não admite a estupidez, o D. O que nos deixa três estados em que a estupidez se pode, ou se manifesta obrigatoriamente, ainda que tomando aparências diversas. Ou vejamos: no estado A (vida quotidiana) a estupidez não é sequer, como já diz o autor assinando Catarina, colocada em causa. A bem dizer porque não conhecendo os habitantes desse estado nada para além dela, não chegam a sentir a necessidade de lhe descobrir os limites, não atingindo por isso entendimento da sua definição e consequentemente da sua existência.Seguindo o esquema da esquerda para a direita, após o estado A, surge a primeira transição, que irei privar aqui de considerações para abordar mais condignamente à frente, juntamente com as restantes transições. E logo de seguida o B, referente à interpelação acidental ou provocada, que sendo o segundo estado ainda muito sofre do estado anterior, mas que contudo por felicidade de um momento de atenção mais compenetrado, sonho, acontecimento traumático, dor profunda ou simples estupidez exacerbada, o individuo tem a possibilidade momentânea ou continuada de se deparar com um erro na sua função da vida. O que lhe poderá levar a questionar, perdendo desta forma alguns alicerces estúpidos, ou simplesmente absorver o erro como sendo fortuito, ignorar e voltar a cimentar os seus alicerces, desta vez ainda com mais massa de estupidez, acabando esta sua incursão no estado B por ser turística, pelo que tudo termina com o seu regresso ao estado A. Para além destes existem porém aqueles que vendo destruídos alguns dos seus alicerces têm a coragem e resistência de prevalecer sem os voltar a cimentar ou substituir por outros igualmente estúpidos. A estes é permitido permanecer no estado B. Mas igualmente aqui enquanto alguns vêm este estado de delírios, dores, sofrimentos, sonhos e ilusões como um fim e aceitam mancar com dores derivadas à falta de alicerces estúpidos até ao fim da vida, outros, aliciados com a expectativa de saberem até onde vai a toca do coelho, decidem abrir mão de mais alicerces estúpidos, colocando em dúvida todos aqueles que conseguem enumerar. Adquirindo dessa forma a consciência de que é vantajoso ceder em altura para ganhar em equilíbrio, o que os mune de bom lanço para passaram a segunda transição e atingirem o estado C. Neste penúltimo estado, também designado análise crítica, encontramos habitantes de tal forma desconcertantes que o seu quotidiano consiste simplesmente em duvidar, destruir, criticar, relativizar, desmistificar, numa frase: ridicularizar toda e qualquer evidência que lhes apareça. De tal forma desregrada que precisam de utilizar alicerces estúpidos que eles sabem ser falsos, apenas para não caírem no abismo. Para tal escolhem, até como medida de segurança, apenas os alicerces mais básicos e obsoletos, de forma que eles não interfiram nas análises senão como fantasmas. Com efeito, também aqui neste estado existe estupidez, não só pelos motivos acima referidos mas principalmente porque ainda que se possa destruir praticamente todos os alicerces estúpidos isso por si só não é sinal que se obtenham respostas não estúpidas, ou colocando a afirmação de outra forma, basta existir apenas um alicerce estúpido, ainda que fantasma, para que todas as respostas obtidas sejam estúpidas. Ocorrendo desta maneira, não raramente aos poucos indivíduos que a este estado aportam ficarem desde logo presos num êxtase de ciclo vicioso sofisticado e autocontemplativo até ao fim dos dias, não chegando a saborear as delícias incomensuráveis do último estado, o ponto de iluminação suprema.Agora e ainda que chegados por via dos factos ao estado D, e faltando no entanto as respectivas transições, opto por não desenvolver qualquer juízo relativamente a este estado transcendente. Isto porque parece-me por demais evidente que seria cair em redundância, sendo que opto assim por deixar apenas algumas noções que me parecem ser oportunas para o prosseguimento do manifesto.
I) O estado D é o alfa e ómega;
II) Nele não há qualquer aperfeiçoamento a fazer;
III) Caracteriza-se por proporcionar aos seus habitantes um conhecimento sem barreiras espácio-temporais.
Antes de passar às transições e em jeito de síntese desta análise dos estados gostaria de chamar a atenção para o aspecto assaz perturbador, que nos revela que os estados B e C como fim em si próprios e não trazendo a consequente chegada a D, são, embora mais evoluídos, menos vantajosos e portanto mais estúpidos que A.

A fé…
Da mesma forma que os estados apresentam características próprias, também as transições se identificam com o tipo de preconceito que é ultrapassado e com o obstáculo do estado de chegada. Juntando isto com a noção de livre arbítrio a elas associado, temos que a transição 1, feita entre o estado A e o B, caracteriza-se por ser aquela que requer um nível de liberdade mais rudimentar, momentâneo ou inconsciente até. É um portal cerebral que se cria no pensamento do indivíduo de forma a abrir um canal de uma consciência nova que ele nunca procurou ou desejou. Surgindo geralmente como um raio pode ser originado por um milagre, acidente, catástrofe, etc. Em suma, a transição 1 consiste em acontecimentos não provocados pelo indivíduo, que originam uma alteração de consciência durante o tempo suficiente para que ele pense um pouco por si próprio.A segunda transição compreende a tentativa de destruição de todos os alicerces estúpidos, de forma que os substantivos a si associados são a curiosidade e o bom senso. Curiosidade porque surge naturalmente a necessidade de explorar com maior profundidade as paredes falsas, os sótãos, as caves, as salas de pânico. Bom senso porque é de inspiração moral, após o choque de do reconhecimento da existência de alguns alicerces estúpidos tentar pela razão substitui-los.Quando estas duas provas de livre arbítrio são cumpridas, chega-se ao estado C, o mesmo que antecede a transição 3, a mais importante e difícil de ultrapassar de todas. Tendo em conta que o alicerce estúpido que caracteriza o estado C é o cepticismo, a única arma que o pode suplantar é a fé. Um salto, renegando não só o impulso mas também o amparo do que se pensa saber, para o abismo. Portanto livre de hesitações ou contemplações para assim aterrar no vácuo etéreo da transcendência. Contudo a estupidez é avessa a este tipo de ascese, pelo que desde de logo tentará minar a nudez do indivíduo por meio da tentação com alicerces fantasma, camuflados, invisíveis, falsas muletas, pares de ténis da nike, etc. E com estas dificuldades apenas o super-homem é capaz de o cumprir, tal o autor da dissertação aqui apoiada assinando Catarina.
O princípio do menor esforço…
É por demais empírico o facto de que os sistemas ordenados exigem uma maior quantidade de energia, para se cumprirem e manterem, que os sistemas caóticos. Desta feita também o caminho que leva à transcendência é contrário à preguiça, ao comodismo, à indolência, ao sentimento confortável portanto e luxuriante de verdes prados associado à disposição de todas as massas. Por isso quando se pergunta: Poderá a estupidez alguma vez ser completamente ultrapassada? A resposta é: Por enquanto não. Simplesmente porque para Deus o motivo pelo qual a estupidez existe é deveras mais excelso que o motivo pelo qual ela não deveria existir. Ou vejamos, se ela não existisse que mérito existiria no alcançar a transcendência. Assim Deus prefere ter poucos mas verdadeiramente livres, do que todos mas infinitamente cordeirinhos trazidos sempre ao colo do pastor, sem qualquer tentação iníqua à espreita.
Sobre estupidez e moral…
Desta forma, é natural que o autor assinando Catarina respeite todos os seres independentemente do estado que eles ocupam. Porque ele sabe, na sua iluminação divina, que todos eles são um elemento essencial à sua transcendência, na medida em que são arautos da estupidez, monólitos assinalando as mais diversas forma de estupidez existentes. Revelando os erros que ele teve que evitar a fim de chegar ao fim do percurso e tornar-se o primeiro super-homem, ou pelo menos o mais misericordioso de todos os super-homens. Espero que, tendo feito Ele a sua parte, saibam agora os remanescentes estúpidos aproveitar os seus ensinamentos e embrenharem-se em tão bela epopeia de libertação. Agora que sabem que o segredo do desembrutecimento reside na aquisição de sensibilidade para a verdade moral e no abandono dos partidos políticos sensacionalistas.

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