a submissão à indolência

por rogério


AAAAAAAAAHHHHHHHH - que este descoco (audácia, desplante, descaro) tira-me do sério.

- Então, como anda a vida?
- Bem.
- Tens planos, já sabes o que vais fazer?
- Sim.
- “Bem” “Sim” - Deixo-te junto das ovelhas algum tempo e de imediato o teu vocabulário sofre a submissão à indolência. Tu és maior do que isto.
- Eis que escrevo sobre o aceder ao artista que existe no interior de cada um de nós.
- AAAAAAAAAHHHHHHHH, que essas frasezinhas tiradas da cloaca do cordeiro, deixam-me fora de mim.

- Faz parte das nossas vidas, do nosso colectivo, enquanto seres sociais, assumir as responsabilidades, que envolvem as nossas relações quotidianas.
- Foodaaaaassse! Eu também contraí o bicho da responsabilidade, mas equilibro esse evacuado, não deixo a pressão diária do ritualizado laborar, interferir com os rituais da latente libertação do ego-animal auuuuu! auauau auuuuuuuuu!

- Consigo sentir que o teu íntimo artífice se sente oprimido, tens de passar a operar de acordo com o teu preconsciente que anseia libertar-se.
- Chhiiiiiiiii, cum camandro, se isso dá no touro, despacha as leiteiras todas. Venderes-te não é realmente o teu forte, pois não?
- Eu não me estou a entregar, eu estou a ceder o meu trabalho.
- Huumm continua a tentar convencer-te do que melhor te faça dormir à noite.
- Ironizas este momento, e evitas ter uma conversa a sério. Eu sei que gostas de palavras, mas estás a ter um raciocínio ilógico ou a galhofar-me propositadamente.
- O quê, não posso fazer as duas coisas? Ao menos reparaste nisso. Outro qualquer nem se aperceberia que passei por ele de picareta e bigorna na mão. O teu desvio ainda é sanável.

- Eu sei que tu resides num universo moralista completamente distanciado das potencialidades de nós, seres tão reais.
- Qual é a palavra para esse discurso mesmo? MARICAS!
- Sim obrigado. Desculpa, nunca foi minha intenção investir-te de sentimentos que não conseguisses dominar.

- Eu não estou surpreso por tu teres escrito algo com venda. Porque se olhares para as prateleiras, observas memórias do passado, entidades que são, ao passar dos teus dedos pelas páginas investidas de tempo. E esse espectro sente-se muito distinto nesses instantes.
- Exacto. Ficaram com o nome na história, quanto mais se pode querer?
- Espera deixa-me acabar, que no final isto dá uma volta de clarividência. - O caminho para a grandeza da publicação está cheio de boas intenções, e é bom enquanto dura. Fruto de teres acreditado em ti próprio e afins. E eu até aceito, na medida em que não sejas devorado por psíquicos vampíricos, consumidores de mentes. Expostos juntos de todos os outros livrinhos medianos que só tem existência durante um ano ou até à cárcere última do compositor da melodia. - Não te deixo aqui com exemplos de obras a abarcar, não te forneço o mapa do trilho a seguir, não exponho que algo que nunca foi feito é que irá ser o que me vai apaziguar a fome. Porque de verdade só existe uma a saciar.. e enquanto não te aperceberes disso, vais continuar a fazer todo o sentido em discursos de afago com o ego. - Poderias aprender o que precisas, mas se vais à procura de alimentar a resolução onde cravaste o paladar, ficarás eternamente circunscrito ao limite da trela que no esticão último, castra a ilimitação do ego. - Claro que se estás na busca de facilidades acabas por as encontrar, e achas que é finalmente o rumo a tomar.

- Este livro demonstra exactamente como me sinto.
- E isso é o quê? Alienado, nauseado, verdadeiramente despossuído?
- Ó pá, não me chateies.
- Eu tenho de chatear, eu sou um homem numa missão. Em que tom de preto é que eu tenho de te explicar isto?
- Isto é tudo uma merda!
- Grandes mentes pensam igual. O denominador comum nisto é que podes rir ou chorar ou os dois, porque não existem humores que sejam demais.

- Façamos o que fizermos, não passaremos nunca de um mais tijolo na parede.
- E o refrão é o verso.
- O que é que isso quer dizer?
- Descobre, meu caro gafanhoto, e o meu trabalho será considerado findo. Eu só quero ver chegar o dia em que possa dizer: - “Encontrei alguém com capacidade no lobo frontal. Estou apaixonado.”


por rogério m. f. a.k.a. ego est quis ego sum em dias de dezembro do vigésimo quinto ano.

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