tag:blogger.com,1999:blog-11153745652881533542024-02-07T11:31:48.252-08:00A Baía dos Porcosrogériohttp://www.blogger.com/profile/15616411237210416160noreply@blogger.comBlogger30125tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-86821399699690228662011-05-07T11:40:00.000-07:002011-05-09T04:23:52.966-07:00Discurso ao provirMuitos são aqueles que prevendo o fim associam o seu nome a algo maior quer eles próprios ou até mesmo que desejando a beleza se procuram elevar neles mesmos à glória.<br />Nada existe maior que eu.<br />Mas não é por isso que me ajoelharei a adorar a Deus, ou ao quinto império, ou à humanidade, em orgulho de me achar o verdadeiro.<br />Sou tudo o que há.<br />E assim sendo que reino?<br />que trono?<br />que súbditos?<br />que verdade?<br />Para quê representar perante mim o profeta, o amante, o louco?<br />Vaguear nestas terras que me pertencem disfarçado de romeiro em busca da donzela humilde ou do homem bom, da pedra filosofante, da água eterna?<br />Conquistar as cidades aos deuses que eu próprio entronei e destituí-los e novamente dar-lhes o poder e outra vez derrubá-los?<br />Ver o fim de tudo e escolher o caminho mais longo para regressar?<br />Perder-me na memória?<br />Aspirar ao esquecimento?<br />Adormecer com o vinho e ao dia ser ora o soberano ora o criador de porcos?<br />Maldizer-me no espelho e contra mim mesmo revoltar-me no mundo deitando fogo à realidade?<br />Escavar buracos na terra e enchê-los de homens segundo a minha condição?<br />Não.<br />Andarei por aí irredutivel como tudo quando pode ser, sem pousio firme ou instante de consolado entendimento.<br />E,<br />como estou,<br />desaparecer.<br />Se tudo é não existir.Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-888405729171524032011-01-05T04:18:00.000-08:002011-01-05T04:36:55.062-08:00A carta<div align="justify"></div><div align="justify"><span style="color:#ffffff;">.</span></div><div align="justify">Carta do Marquês de Pombal ao Ministro dos Negócios Estrangeiros da Inglaterra: por causa de terem sido queimados debaixo das nossas fortalezas da costa do Algarve, alguns navios franceses, BN, H.G. 25068 V</div><div align="justify"></div><div align="justify"><span style="color:#ffffff;">.</span></div><div align="justify"><span style="color:#ffffff;">.<br /></span><em><span style="color:#ffffff;">.</span></em></div><div align="justify"><em>Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor</em></div><div align="justify"><br /><em>Rogo a V. Exa. Que me não faça lembrar as condescendências que o nosso Gabinete tem tido para com o seu. Elas são tais, que eu não sei se alguma Potência as haja tido semelhante para com outra. É justo que este ascendente acabe por uma vez, e que Portugal faça ver a toda a Europa que tem sacudido o jugo de uma dominação estrangeira. Portugal não pode provar isto melhor que obrigando o vosso Governo a dar-lhe uma satisfação, que por nenhum direito lhe deve negar. A França olharia para Portugal como para um Estado em fraqueza, se não pudesse obrigar-vos a dar razão da ofensa que lhe fizestes, vendo queimar defronte dos nossos portos, navios que deveriam ter ali toda a segurança.<br />Vós não fazieis ainda figura alguma na Europa, quando a nossa Potência era a mais respeitável. A vossa ilha não formava mais do que um ponto na Carta ao mesmo tempo que Portugal a enchia com o seu nome. Nós dominávamos a Ásia, África e América, quando vós domináveis sómente em uma ilha da Europa. A vossa Potência era do número daquelas que não podiam aspirar a mais do que à segunda ordem; e pelos meios que nós vos temos dado, a terdes elevado à primeira. Esta impotência física vos inabilitava para estenderdes os vossos domínios fora da vossa ilha; porque, para fazer conquistas, precisáveis dum grande exército; mas para ter um grande exército é necessário ter meios para lhe pagar, e vós não o tínheis. A moeda de contado vos faltava. Os que calcularam sobre as vossas riquezas, acharam que não tínheis com que sustentar seis regimentos. O mesmo mar, que pode olhar-se como vosso elemento, não vos oferecia maiores vantagens; com muito custo poderíeis apenas equipar vinte navios de guerra.<br />Há cincoenta anos, porém, a esta parte, tendes tirado de Portugal mais de mil e quinhentos milhões, soma enorme de que a História não fornece exemplo que nação alguma do mundo tenha enriquecido a outra de um modo semelhante. O modo de adquirirdes estes tesouros vos foi ainda mais vantajoso do que os tesouros mesmos. Pelas artes é que a Inglaterra consegui fazer-se senhora das nossas minas. Ela nos despeja regularmente todos os anos do seu produto. Passado um mês depois da chegada das nossas frotas do Brasil, não fica em Portugal uma só peça de oiro; tudo tem passado para aumentar a sua riqueza numerária. A maior parte dos pagamentos do Banco são feitos com o nosso oiro.<br />Por uma estupidez de que também não há exemplo na História Universal do mundo económico, nós vos demos a faculdade de nos vestirdes e de nos fornecerdes todos os objectos de luxo, que não é pouco considerável. Nós damos de que viver a quinhentos mil vassalos do rei Jorge; população esta que subsiste à nossa custa na capital da Inglaterra. Os vossos campos são quem nos sustenta. Vós substituístes os vossos trabalhos aos nossos; se antigamente vos fornecíamos o trigo, vós sois hoje quem no-lo fornece. Vós tendes roteado os vossos campos, nós deixamos os nossos em baldios.<br />Mas se vos temos elevado a esse ponto de grandeza, na nossa mão está o precipitar-vos no nada de que vos arrancámos. Nós podemos melhor passar sem vós, do que vós sem nós. Basta uma só lei para destruir a vossa Potência, ou pelo menos para enfraquecer o vosso Império. Não precisamos mais do que proibir, com pena de morte, a saída do nosso oiro, para ele não sair jamais. Talvez respondereis a isto que apesar da proibição, sairá mesmo do modo como sempre tem saído, porque os vossos navios de guerra têm o privilégio de não serem visitados na sua partida e em consequência do dito privilégio transportarão todo o nosso oiro; mas não vos enganeis com isto. Eu fiz romper vivo o duque de Aveiro por ter atentado contra a vida do rei, e poderei muito bem fazer enforcar um dos vossos capitães por ter roubado a sua efígie em desprezo da lei<br />Há tempos em que nas monarquias um só homem pode muito. Vós não ignorais que Cromwel, na qualidade de Protector da República inglesa, fez cortar a cabeça a Pantaleão de Sá, irmão de João Rodrigues de Sá, embaixador de Portugal na Inglaterra, por se ter prestado a um tumulto; e eu, sem ser Cromwel, estou em estado de imitar o seu exemplo na qualidade de Ministro Protector de Portugal.<br />Fazei, por tanto, o que deveis, se não quereis que eu faça o que posso. Que seria da Grã-Bretanha se por uma vez lhe cortasse este manancial das riquezas da América? Como pagaria à imensa tropa de terra e a grande armada do mar? Como daria ela ao seu soberano os meios de viver com o esplendor dum grande rei? Donde tiraria os grandes subsídios que paga às Potências estrangeiras para escorar e firmar a sua? Como viveria um milhão de vassalos ingleses, se se acabasse para sempre a mão de obra de que tiram o seu sustento? Em que estado de probreza não cairia todo o reino, se este único recurso lhe faltasse? Basta que Portugal regeite os seus grãos (quero dizer, o seu trigo), para que metade da Inglaterra morra de fome.<br />Direis que não muda com facilidade a ordem das coisas, e que um sistema há muito estabelecido não pode transtornar-se em um momento. Dizeis muito bem; mas eu direi ainda melhor. O rodar do tempo é que pode trazer esta reforma. Eu estabelecerei um plano preliminar de comércio, que se encaminhará ao mesmo objecto.<br />Há muito tempo que a França nos estende os braços para que recebamos as suas manufacturas de lã. Na nossa mão está aceitarmos as suas ofertas, o que sem dúvida aniquilará as vossas. A Berbéria, abundante de trigos, os fornece a melhor mercado que os vossos. Então vereis com a maior dor um dos principais ramos da vossa marinha ficar inteiramente extinto. Vós sois muito versados no Ministério, e não ignorais que isto é um viveiro de oficiais marinheiros de que a marinha real se serve em tempo de guerra; e com isto é que tendes elevado a vossa Potência.<br />A satisfação que vos pedimos é conforme ao direito das gentes. Todos os dias acontece haver oficiais do mar que, por zelo ou inconsideração, fazem aquilo que não devem. Ao Governo cumpre puni-los e fazer a reparação ao Estado que eles ofenderam. Todos sabem que semelhantes reparações o não tornam desprezível. A nação que se presta ao que é justo, adquire a melhor opinião; e da opinião é que depende sempre a potência do Estado.<br /></em></div><div align="center"><em><span style="color:#ffffff;">.</span></em></div><div align="center"><em>Marquês de Pombal<br /></div></em><div align="center"><em><span style="color:#ffffff;">.</span></em></div><div align="center"><em>Conde de Oeiras</em></div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-45866428028734553632010-12-31T22:15:00.001-08:002011-01-04T04:04:01.161-08:00Rocket man<div style="TEXT-ALIGN: justify"><span class="Apple-style-span" style="LINE-HEIGHT: 16px"><span class="Apple-style-span"><i></i></span></span></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><span class="Apple-style-span" style="LINE-HEIGHT: 16px"><span class="Apple-style-span"><i></i></span></span></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><span class="Apple-style-span" style="LINE-HEIGHT: 16px"><span class="Apple-style-span"><i></i></span></span></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><span class="Apple-style-span" style="LINE-HEIGHT: 16px"><span class="Apple-style-span"><i></i></span></span></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><em></em></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"></div><div style="TEXT-ALIGN: justify" align="justify"><em><span style="color:#ffffff;">.</span></em></div><div style="TEXT-ALIGN: justify" align="justify"><em>I think it's gonna be a long long time</em>*</div><div style="TEXT-ALIGN: justify" align="justify"></div><div style="TEXT-ALIGN: justify" align="justify"><span style="color:#ffffff;">.</span></div><div style="TEXT-ALIGN: justify" align="justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify" align="justify">Parecia-me uma eternidade, um lugar impossível de alcançar por mais anos-luz que viajasse, esse sítio da última vez que estive comigo. No entanto, o universo, o infinito também possui o seu ciclo e no inesperado das leis cósmicas as distâncias que outrora se assemelhavam abismais tornam-se num repente, e por mão das mais improváveis realidades, banais insignificâncias de metros. Assim foi, uma troca olhares, uma breve informação de luz retida em menos de um segundo despertou-me e o que eu achava apagado da memória emergiu triunfante da treva dos dias para me regressar ao tempo em que tudo aconteceu. Levou-me em retrocesso até essa origem e pelo suceder de imagens eu pude observar, mesmo navegando à velocidade dos astros, os enganos responsáveis pelo meu afastamento. Medo, tudo se tratou do receio que me fez agarrar as mais ilusórias salvações. Mas agora que estou de volta nada disso importa. Eu não sou o homem que vocês vêem na rua, nas praças, na contingência das relações humanas, na furtividade dos encontros clandestinos, aquele que encontram por acaso no café, ou convidam para a intimidade dos vossos lares. E nem o mais profundo vislumbre, nem a mais incisiva técnica de análise lhes pode revelar o homem que por este corpo se vos depara. Da última vez que aqui estive não foi muito agradável, disse e ouvi coisas que não queria. Este lugar não é nada do que falam os sonhos, tudo é frio e sem cor. Não traz qualquer consolo o autoconhecimento. No fim é tudo cinzas, cinzas e nevoeiro. Mas é a minha casa, não tenho outra, e agora que aqui estou quero aproveitar até ao último instante, porque não sei quando irei voltar, não sei quando estarei de volta. É claro que sinto alguma saudade disso aí em baixo, sinto a tua falta e tudo o que quero é trazer-te comigo da próxima vez, tenho essa esperança, mesmo sabendo que tu não irás querer, que isto não é sítio para ti, tenho que manter essa esperança.<br /><br /><br />*em agradecimento a Sir Elton John</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"></div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-88381332521590928312010-11-14T15:34:00.000-08:002010-11-27T06:41:45.617-08:00O último dos pulhicas<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNGq2-V8PMyR7T-3LqgrQwANpdHqZD-pBmWrfIDOPiEWLAU6ytOg4SpU4BgTUlexRvXsEBtQlGLSsBTZm50rjJGDByB__mPw_oObxl68seLzQR9qqeeicm-mPJfVtHHKCkPtT_eUWRZutJ/s1600/44.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5539554867233481890" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 237px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNGq2-V8PMyR7T-3LqgrQwANpdHqZD-pBmWrfIDOPiEWLAU6ytOg4SpU4BgTUlexRvXsEBtQlGLSsBTZm50rjJGDByB__mPw_oObxl68seLzQR9qqeeicm-mPJfVtHHKCkPtT_eUWRZutJ/s320/44.jpg" border="0" /></a><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">“Trata-se de um assunto tão melindroso que não existe, em todo o ramal da literária história, notícia ou sequer suspeita do seu obscuro caso.”</div><div style="TEXT-ALIGN: right">Anónimo</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">E, depois de uma noite submersa pelas brumas erguidas do vale, os primeiros fluxos matinais vieram revelar a silhueta há muito desejada para o relevo do horizonte, dando afinal substância às escrituras que vaticinam quatro dias e quatro noites para o achado. Mas o espaço cronológico ocorrido desde a nossa partida da Torre Branca até à minha chegada aos confins do mundo, não o sei, ninguém o saberá limitar. E terão sido vários anos, ainda que a mim me pareça ontem o dia – se é que nisto se pode falar em dias – o tempo em que abalamos os quatro pelas veredas deste universo enleados numa fantasia. Digo fantasia – entenda-se e não se faça disso alarde maior que o necessário – porque neste mundo apenas se pode denominar fantasia à crença de que existem respostas concretas às mais profundas ânsias do homem.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify">“A criação está terminada, não são bem-vindos os adoradores do Portaluz”, é a inscrição que preside ao arco triunfal da Torre Branca, contudo, apenas vários enganos volvidos principiei a entender a advertência destas palavras. E – devo ser prático – para todos os efeitos era esse o nosso caso: um punhado de jovens do qual se podia afirmar, sem cair em excessos, idealista. Ora, ao contrário do geralmente se suspeita ou se tem como certo, o maior crime do idealismo não reside no sonho mas na sua obsessão em se cumprir real, isto é, absoluto, acabado. Pois ninguém duvide de que consiste um facto: a nós, que partimos naquela remota manhã em busca da Cidade Perdida, não importavam subterfúgios, lenitivos, redenções. Seria então um “glória ou morte”. Seria, poderia ter sido… não fossem porém os meandros da viajem. </div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Durante o percurso foram largos os obstáculos vencidos, mas somente chegado ao fim me é prestado o legítimo necessário a fazer deles conhecimento.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">E se indispensável se entende antes de tudo mais serem os antecedentes para que do resto se possa obter sentido, fica por aqui descrito, não para que na leitura do incrédulo se obtenha confiança porquanto do crente se ache alguma luz. </div><div style="TEXT-ALIGN: justify">As misteriosas circunstâncias que levaram à reunião dos quatro, insondáveis, viajam ainda sobre as águas do Atlântico e permanecem espuma ao escrutínio dos deuses, no entanto cumpre aqui considerar a sua mais que providente ocorrência para efeitos do que as procedeu.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Feiticeiro, Soprano, Saladino e Indígena, assim consistia a quadriga de que se tem vindo a tratar e, muito embora possa ser confundida a priori com qualquer outro quarteto, bastará um breve glimpso da narração que se segue para desfazer toda a predisposta leviandade.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Do primeiro basta dizer que se trata do mais auspicioso guerreio do mundo virtual; autor das primícias do reino, dispõe do ceptro na mão. Do segundo, que se identifica com o autor destas linhas, pede a modéstia que se diga apenas o essencial. Procedendo à direita, é o primeiro cavaleiro do reino. Aquele de que muitos aspiram o escolhido empunha o sabre do arcanjo. Do terceiro, vindo das ancestrais civilizações de leste, de quem se murmura lhe haverem os deuses concedido a língua do oráculo, será ainda exígua consideração afirmar que consiste num mestre da perdida arte do raciocínio. A este foi-lhe concedida a guarda da pedra filosofante. Do quarto, por fim, reportando-se-lhe a capacidade de se constituir como qualquer um dos restantes três, e nenhum deles, nada mais se pode afirmar que ocorre inesperadamente como a força mais obscura do reino, ele o portador do elixir eterno. Juntos, os quatro, eram eles mesmos os elementos integrantes do espírito pulhica, a luz do reino.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Certo dia encontravam-se pois os quatro nas quotidianas explorações das suas capacidades em desafios empenhados quando por um sopro do acaso descobriram o potencial do cavalo branco estrategicamente colocado na posição f7, nessa precisa altura, ainda assombrados com a descoberta, foram interrompidos pela Voz que sem os elucidar do motivo os enviou na derradeira missão da descoberta da Cidade Perdida. E assim se deu início à Odisseia pulhica, ou para ser mais correcto, à Pulhiceia.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Soterrados até ao pescoço pelo lodo dos grandes pântanos há mais de uma semana principiamos a achar repouso no estertor ácido do ressentimento. E foi quando, se preparando já os espíritos para abandonar o cárcere dos nossos arcabouços, pudemos escutar o mel das memórias adormecidas, que demos fé do engano a que havíamos sido conduzidos pelo orgulho. De facto desprezando os atalhos por entendermos vergonhosas as facilidades e ignorando os conselhos ancestrais como de simples rancores tardios se tratassem, confiamos somente na inocência da nossa moral, o que nos levaria, levou, a inevitáveis abismos.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Foi então o primeiro de nós dizer, não vamos conseguir, que logo o pensamento sombrio nos dominando já as entranhas desceu sobre nós para daí não deixar mais. No seguimento, um por um, chamando ao caso uma necessidade de carácter prático e pessoal, nos fomos pois retirando por alguns instantes da companhia do grupo e, não obstante os receios que nos levaram, todos voltamos depois da reflexão com o semblante de quem havia chegado a uma circunstância definitiva. Para que fosse retomado o plenário muitos corvos teriam de chamar da profundeza das suas nuvens tempestuosas e só com a chegada da aurora se voltaria a ouvir qualquer palavra. Foi por aí que um de nós rosnou, juntos não nos sabemos capazes, separados, ficarão pelo menos as nossas hipóteses multiplicadas.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify">As trouxas já se encontravam feitas de véspera e, escolhidos os caminhos que rapidamente nos apartariam, cada um se deixou levar pelo sopro do seu espírito.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Vencer por si próprio.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Auferindo da claridade de um ego desimpedido avista-se mais nítida a distância exterior mas não raramente se fica obstruído nas brumas da intimidade. O caminho que principiamos a percorrer os quatro passou então da geografia do mundo para a topografia dos sentimentos e as dificuldades que a cada um de nós se iriam impor diziam pois, mais que a um relevo rochoso, respeito às próprias ambições internas. A mim, de quem por acaso haviam saído as audaciosas palavras, sobreviria o caminho das rosas acídias. </div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Abandonando definitivamente os pântanos segui pelo leito seco de um rio que me surgiu por indicação de um farrapo vermelho preso num arbusto e por esse carreiro de seixos brancos continuei até ele se transformar num humilde trilho, depois numa rua ladrilhada e enfim numa avenida de luz que inesperadamente acabaria por morrer num pequeno roseiral. Assim que me deparei com o exíguo jardim dispus-me assombrado por verificar que o poderia atravessar em menos de uma passada, mas logo que me empenhei fui rapidamente desenganado. Era certo que depois de o cruzar estaria no atalho que me pouparia uma vida de caminho, mas para que pudesse a sua existência ser caminhada era necessário que primeiro fosse a sua essência penetrada, tarefa que me ocupou durante anos e que mesmo agora não tenho confiança de ter alcançado uma vez que o engano do odor soporífero se manifesta precisamente na ilusão da vitória. Fui pois, por vários anos, envolvido pelas mais saborosas fantasias e idílicos deslumbramentos, e se ao início ainda foi insuficiente a falta de consequência depois acabou esta por se transformar no mais apetecível repouso. Um dia, no entanto, ergui-me do dourado berço que me embalava e decidi que iria encontrar a cidade perdida não para glória do descobrimento contudo por essa vitória se revelar afinal a única esperança de voltar a encontrar os meus companheiros de peregrinação. </div><div style="TEXT-ALIGN: justify">O jardim deixou-me passar.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Assim que cruzei os portões da cidade dirigi-me para o palácio do trono e exigi saber se já outros intrépidos descobridores haviam alcançado tal feito. Foi-me dito que era eu o primeiro e que apenas um tinha permissão para entrar. Ao início exaltei-me de jubilo por ter sido o escolhido mas depois, olhando o horizonte, o meu semblante iluminou-se dos primeiros raios de sol e nesse calor lúcido percebi que não estavam perdidos, que simplesmente cada um deles havia encontrado a sua cidade. Cada um vitorioso no seu empenhamento, de facto sós, todos havíamos sido derrotados. O sol nasceu então completo no seu esplendor e eu petrificado por tal visão já não fui a tempo de verter sequer uma lágrima. </div><div></div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-50878910024697304172010-09-28T07:28:00.000-07:002011-05-09T07:46:00.111-07:00Long Live The República<div style="TEXT-ALIGN: justify"><i><br /></i></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>To all you phonies</i></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">A república é um grifo. A república é um grifo morto pelas costas. A república é um grifo morto pelas costas e embalsamado. Sarandava emplumado por aí à procura da carcaça de D. Sebastião quando foi legitimamente abatido pelo varino. Pairando nos céus pertencia à monarquia, mofando no museu de história natural passou a ser propriedade da república. Eis a besta subjugada que todos os anos por esta altura sai à rua no cimo enflorado de um andor trazido por um país miserando o peso de uma herança cada vez mais inútil. De que nos servem caravelas encalhadas, epopeias em catálogo, impérios de protocolo? </div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Antes de ontem fui ao Teatro Nacional São João ver A Gaivota, apresentei o bilhete e deixaram-me entrar. Hoje em dia por dezasseis euros entra qualquer um; se fosse no Centro Cultural Vila Flor seria por dez e na Trofa, que não possuiu teatro ou auditório, talvez me pagassem para assistir à peça, mas o TNSJ é outra coisa, relíquia da monarquia, é a honra de beber pelo corno da besta.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Um século de existência é aniversário respeitoso, pelo menos ficou bem num Manoel de Oliveira que toda a vida fez filmes. No caso da república, porém, talvez ainda seja prematuro proclamar os parabéns desejados, quero eu dizer, enquanto o Estado Novo detiver a maioria relativa do período a salva de palmas soará sempre a final de concerto sinfónico de segunda interpretado pelos filhos da terra. </div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Ah! de espanto. O interior é lindíssimo, cor de burro quando foge coroado de louros dourados, pinturas da bandeira republicana, esculturas gregas e frescos barrocos... só lhe falta uma temporada inteira de ópera. </div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">O Agostinho da Silva deve estar a dar pulos de satisfação na tumba, agora que o número de desempregados aumentou e há neste pais mais quem se dedique ao livre pensamento. Aliás, as ruas estão lotadas dessa recente cultura que consiste em implementar nas praças, nas esplanadas, nas barbearias e nos passeios de montraria a profissão das criaturas invejáveis que habitam a televisão.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Devo confessar que sou um fã do trabalho do Nuno Cardoso e dos excelentes profissionais com quem ele costuma trabalhar, actores incluído. Aqui diante de mim me assumo apreciador das peças que tem levado a cena e dos conseguimentos cénicos e cenográficos, esta Gaivota não escapa ao que no seu universo tem sido lei.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Sento-me na minha confortável cadeira 15 na fila E e, olhando em volta, apercebo-me das formas de vida circundante; tudo gente digníssima, apreciadora do melhor teatro. Sinto-me aconchegado pela cultura, esse tão sublime Apolo da humanidade. Penso para mim: lá fora os putos de skate procriando a subcultura americana e eu aqui cultivando com prazer as sete dimensões do meu espírito sem mexer uma palha.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Afinal qual é a lógica de festejar como suprema uma efeméride que se encontrou na génese de uma eternidade à qual se considera vergonhoso conceder qualquer referência explícita ou implícita? Não sei, será que os carbonários na altura de puxar o gatilho tiveram em conta que a envolver os insustentáveis interregnos de opressão azul ondeava um oceano de gloriosa governação monárquica? Provavelmente não.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Olho em volta e sobem-me as ruas, os becos, as obscuras ilhas da mais luminosa humanidade a naufragar na indiferença dos dias. No centro de tudo a requalificação da baixa, a abertura do salão nobre às gentes, ao comércio, à facturação ao metro quadrado. E digo para mim que tudo isto é admirável, porque, meu Deus!, sem o Annie no Rivoli também não haveria as corridas na Boavista e o red bull no Douro. Há pois que criar divertimentos para esses Paul Smiths e Austin Martins e Mónacos, e sugá-los até ao tutano, se não para aplicar tudo na saúde e na educação, que seria uma loucura, para rebentar a soma em luz com estrondo na noite de São João.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Apenas porque este sistema funciona assim não quer dizer que não existam sistemas a funcionar assado.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">A questão plástica do cenário foi magistralmente ultrapassada recorrendo a um lago omnipresente, contudo, passado o primeiro impacto a novidade adormeceu e só voltou a surgir nos reflexos nocturnos.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Sempre me cativou a personagem de Kostia, aquele conceito elevado de arte, a forma como se entrega à fatalidade do amor que será talvez um decalcamento de como se submete ao desprezo da mãe. O romântico por excelência na linha de Werther.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Reparo em volta e conspiro para dentro o quanto seria providente procurar restabelecer a economia deste mundo por intermédio do livre comércio transformando-me no maior facilitador das tão desejadas viagens internas e externas, viscerais e geográficas, de todos os filhinhos destes papas e reinvestir dois terços dos lucros no que de facto faz falta a este país. Deixa-me feliz imaginar que daria um óptimo negociador de tropas de cavalo branco, Pirinéus de neve, café com leite, cavalinhos rampantes, muita fruta e outros.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">A minha personagem preferida é, no entanto, Trigorin, o escritor famoso, o homem que manda embalsamar a gaivota morta por Kostia. No essencial é uma gralha que se sentindo irresistivelmente atraída por tudo o que brilha está condenada a destruir a beleza coleccionando-a em livros tal como mata os peixes retirando-os do seu ambiente natural. Ao contrário dos restantes, não é um hipócrita, tem consciência da sua condição e, sem se vitimizar, ainda que caído na indolência, não se concede mais dramatismo que a medida, o que lhe desce numa aura de manhã clara sobre o lago.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">É por isto que eu digo que no cinco de Outubro próximo o que se vai festejar é a queda da monarquia, não a elevação da república.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Sempre me habitou em relação ao Porto o mais estranho dos sentimentos que alguma vez desenvolvi por uma cidade. Por si só, o seu caos arquitectónico, revela-se capaz de abrigar na perfeição a mais atormentada das almas e ao mesmo tempo falar ao coração da infância. Local onírico por excelência constitui um país das maravilhas acima da terra. E, no entanto, é indiscutivelmente feito de granito, escavado dos mais escorreitos valores, ao ponto de nos surgir uma imagem: a face de David.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Na cena final da peça, Nina, a actriz frustrada cujo sonho foi destruído pela entrega ao amor, diz: Eu sou a gaivota.</div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify">Portugal é a gaivota. </div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"></div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-26514375675388805952010-07-28T06:58:00.000-07:002010-09-10T01:51:43.553-07:00A entrevista*<div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Dr. Moobrugger, boa tarde. Mais uma vez obrigado pela sua disponibilidade e simpatia.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Boa tarde. Não tem de quê. Por favor trate-me por Ulrich.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Muito bem, Ulrich. Antes de mais entendo ser pertinente, dado o facto de ser pouco conhecido em Portugal, começar por localizar a sua personalidade. Como se definiria a si próprio?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Nasci em Klagenfurt, na Austria, no rescaldo da segunda guerra mundial, fruto de um caso extraconjugal entre um oficial da Wehrmacht e uma enfermeira Vienense. Frequentei a instrução regular até à morte da minha mãe num acidente de viação, a partir daí fui acolhido pelo meu avô paterno que me levou para Neu-Ulm, na Baviera, onde frequentei um colégio de jesuítas até completar dezoito anos. Depois estudei um pouco por todo o mundo. Acabei a minha graduação de História natural e filosofia em Munich, tirei uma pós-graduação em epistemologia em Paris e fui convidado para dar aulas em Bolonha, onde conclui em paralelo o meu doutoramento com a tese o historicismo científico em Maquiavel. Participando de vários projectos internacionais, viajei um pouco por todo o mundo em conferências e seminários sobre o futuro sociológico da Europa. Há cerca de dez anos retirei-me do ensino para me dedicar exclusivamente à investigação e à escrita.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Eu tinha-lhe pedido que nos contasse a si, não a história da sua vida, no entanto, já que se predispôs a narrar a sua biografia vou aproveitar para lhe colocar uma questão sobre ela. Como experienciou a guerra fria?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Sabe, é bom que puxe esse tema porque geralmente não tenho oportunidade para falar dessa realidade políticosociocultural que deformou o mundo e de forma especial a Europa. O que se passou naquela altura, recuperando um pouco aquilo que imaginamos ter ocorrido durante a reforma protestante, vem descrito na Bíblia sob o título a parábola do filho pródigo – </i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">É da opinião que a Bíblia para além de ser uma síntese da sabedoria ocidental é também profética?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Bem, a sabedoria de certa forma é um dom profético. </i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Na sua opinião qual foi o maior pecado do bloco de leste?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>A repressão.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">No bloco de oeste não existia repressão?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Existia e existe, mas trata-se de uma censura positiva.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Explique-se.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>É muito simples. A censura negativa exerce-se pela negação de direitos, enquanto a positiva se baseia no enfraquecimento dos mesmos.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">A primeira ataca as pessoas ao passo que a segunda ataca as leis.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Precisamente. </i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Acha que ganhou o melhor sistema?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Eu sou da opinião que não ganhou sistema algum. O capitalismo é simplesmente uma designação infeliz para a ausência de modelo, isto é, para apelidar aquilo que nós conhecemos como as leis naturais.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Ainda assim que conclusões pode tirar da presente crise mundial?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Permita-me que rectifique, a crise não é mundial mas globalizante.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Qual é a diferença?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Não é diferença, trata-se de reconhecer que existem crises e “crises”. Na actualidade apenas são contabilizadas as crises do sistema vigente, as suas fragilidades, no entanto, existem outras, talvez mais graves ainda, que por não lhe dizerem respeito passam despercebidas.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Tendo em conta que você utilizou a palavra sistema para dar conta de uma certa organização que domina o mundo eu passava a perguntar: Qual acha ser o objectivo desse sistema?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>O objectivo de cada sistema, geralmente, é o próprio sistema, ou seja e utilizando o chavão darwinista, a sua própria sobrevivência.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Daí o acusarem de ser um sistema amoral…</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Bom, a moral é por natureza um estado relativo.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Essa não é a desculpa dos perversos?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Também pode ser, mas para compreender a moral é necessário ter em conta que ela tem sempre origem numa perspectiva, numa tendência, num interesse.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Está de acordo com aqueles que dizem que esta crise teve e tem origem numa crise de valores?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Todos os valores que não estão em vigor têm motivos para desprezar aqueles que são valorizados.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Trata-se então de mais uma luta de ideologias ou, nas suas palavras, de interesses?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>E não é? </i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Concretize.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Já se perguntou alguma vez porque as pessoas procuram ideologias?</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Imagino que seja para construir um mundo melhor.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Não, esse poderá ser quanto muito o objectivo. A fonte de todas as lutas ideológicas tem que ver com o desconforto, e o motivo pelo qual as pessoas o sentem não está, na maior parte das vezes, tão intimamente relacionado com esse altruísmo quanto seria desejavel.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">É a súmula daqueles que afirmam vivermos numa sociedade individualista.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Não, de certa forma a sociedade é sempre individualista, por outro lado, o que esses críticos pretendem dizer é que não se encontra em vigor o tipo de corporativismo que eles anseiam.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">É tudo uma questão de perspectiva.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Eu diria, ao invés de perspectiva, palpite.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">A sorte também desempenha o seu papel?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>O que é a sorte?</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Digam-me você.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Bem, eu acho que o conceito que melhor serve essa palavra neste contexto é aquele que se refere a um estado ou acontecimento que não conhecendo uma explicação ou história rastreavel vai de encontro a uma esperança ou desejo à partida tido como improvável. O que, repare, é o mesmo que dizer que representa a crença do homem no destino, em Deus se quisermos.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Acredita em Deus?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Alguma coisa será.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">E de uma forma tradicional?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Dentro de determinados parâmetros.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Como assim?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Não há dúvida que a sua presença tem sido um marco imprescindível para toda a humanidade, o valor do seu conceito é inegável, acompanhou e acompanhará sempre o homem. No entanto, o seu acontecimento, para além de se encontrar confinado a uma postura muito própria, parece ser indiferente a qualquer tipo de interpolação, o que resulta em algumas apropriações pouco desejáveis, algumas delas muito infelizes por sinal. No entanto, o ponto essencial no que respeita a Deus prende-se com o fundamento da fé, isto é, com o carácter da esperança proporcionada. Como é obvio não me vou pôr para aqui a narrar o que está escrito na Bíblia e o que dela foi retirado por séculos de exegese, mas acredito que seja fácil de compreender para os outros como é para mim que a face de Deus se tem tornado cada vez mais distante, ele tem passado continuamente de um pedestal salvador para uma tutela crispada. Daí que eu tenha afirmado no meu livro “Sights for a Miracle” que hoje em dia talvez seja mais útil acreditar que a nossa presença na terra se deve a uma intervenção alienígena. Esta, de facto, seria uma crença que para além de nos fornecer uma esperança intermédia mais plausível de vir a ser corroborada, abriria novas perspectivas ao desenvolvimento do homem.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Dessa forma não se cairia no puro cinismo?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Não, quanto muito seria cair num novo cinismo.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Eu preparava-me para acrescentar arbitrário.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Arbitrário pode-se dizer de muita coisa, mas não, não creio que seja o caso, de todo. Para entender isto é necessário pensar no caminho já percorrido pela humanidade e naquele que falta percorrer. A maior esperança tem sido sempre o encontro, e no caso do homem moderno o contacto com novas formas de vida inteligente revelar-se-ia um marco.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">E essa procura não acabaria necessáriamente por se transformar em mais um subterfúgio, um saco sem fundo?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Os subterfugios também possuem a sua utilidade, assim como o mistério.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Nesse seu livro que já referiu, “Sights for a Miracle”, surge uma passagem em que diz qualquer coisa como “o mistério é o motor da evolução” e, mais adiante, que “perdê-lo seria a maior desgraça da humanidade”.</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Sim, ainda não reparou que é ele que mantem todas as peças juntas, e não deixa que nada seja esquecido.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">Existe porque é útil?</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><i>Não, eu acho que é precisamente o contrário.</i></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: right">(Continuará, um dia, talvez) </div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify">*Enxerto de uma entrevista exclusiva amavelmente cedida pelo antropólogo Ulrich Moosbrugger à Baia dos Porcos</div><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: center">Tradução, notas e publicação por Nuno A. </div><div style="TEXT-ALIGN: justify"></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: justify"></div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-83384947889442699332010-06-29T04:27:00.000-07:002010-09-08T04:58:43.572-07:00Contrainvestida sob a deslumbrante incúria do ser<span style="font-size:0;"></span><div style="TEXT-ALIGN: justify"><br />Que me abandonem as ninfas, que me deixem as musas, calem-se as liras, baixem-se as trombetas, fechem-se as fontes, interrompam-se os rios, esvaziem-se os mares, levem daqui as mulheres, eu quero estar só.<br /><br /><br />"I know not what tomorrow will bring" Pessoa, na hora da morte<br /><br />O que eu vejo é um sumo sacerdote na túnica imaculada do seu lençol de núpcias. Habitando uma clareira incólume, arvora o segredo do ritual obscuro a que procede desconfiando como testemunhas os melros debicadores das violáceas flores e os ouriços-cacheiros aurigas das evalinas maças. Canta um zéfiro de leste e tal celebrante derrama sobre a pedra do sacrifício o incenso lunar do marfim contra o aroma térreo das raízes. Arde perto uma exígua rusga de galhos caídos e, burilando no seu crepitar, um negro caldeirão fabrica a densa bruma condensadora da treva que nos engole.<br /><br /><br />“Alles ist gut” Kant, na hora da morte<br /><br />Estou sentado na pedra angular e doem-me as costas porque ela não tem encosto. De frente o sacerdote de braços elevados fita a altura das estrelas. As palavras proferidas do remoto da sua voz gutural sabendo-me a latim convidam à inocente devoção. <span style="FONT-STYLE: italic">Per vias rectas introibo ad altare Dei</span>. Uma vez por outra solicita o meu reparo. Levanto-me e inclino ligeiramente a cabeça ao que ele entenderá por vénia. Pergunta-me se estou preparado. O relento amantíssimo da expectativa dispensa palavras.<br /><br /><br />"Levem daqui as mulheres" Sócrates, na hora da morte<br /><br />Procedendo ao que se tem previsto, de acordo com as duas possíveis vias, o desfecho revelar-se-á igualmente célere e impiedoso. É chegada a hora do destino e o reverendo já munido do quarto crescente suspenso na linguagem do aço aguarda a eventualidade do eclipse.<br /><br /><br />“Merh licht” Goethe, na hora da morte<br /><br />Lembro agora os que me antecederam. Coalhado nas ranhuras do granito, como um enorme líquen o sangue estende-se pelo declive até às verduras do solo. Num gesto inspirado de ingenuidade baixo a face ao frio da pedra, respiro a doçura do carmim. Tenho sede. O carrasco não possui vinagre, o futuro é incerto. A misericórdia parece resistir no canto dos seus olhos. Ele, porém, passando a sua mão esquerda em afago pelo meu cabelo limita-se a sussurrar uma esperança etérea.<br /><br /><br />“Terminou a morte – disse. – A morte não existe” Ilich, na hora da morte<br /><br />Procuro imaginar os que me partilham o sangue na expectativa da sorte que me abençoará. Como acharei os seus braços após a desejada vitória, perante o meu mais provável fracasso. Neste clamor mudo é-me devolvido o silêncio ancestral. O sacerdote prolonga-se numa espera já incrédula. Nem uma ave no céu anuncia a obstrução do satélite. Em pouco tardar ser-me-á para sempre negado o desfecho que, por mim idealizado nos escassos que me foram exemplo, sempre me almejou a luz. À miséria dos meus não sobrevirá a salvação do dote merecido aos que auferem a honra de perder um filial para o sacrifício dos astros. Percebo com amargura pelos primeiros raios, a manhã próxima, que sou apenas mais um. Até ao final da noite gume algum me libertará o grito suspenso na garganta.<br /><br /><br />“Consummatum est” Cristo, na hora da morte<br /><br />Demais vacinado para os da minha sina, o sacerdote pede-me imediatamente que desaperte o cinto e desça as calças. Fecho os olhos ao gesto brusco que me acrescenta ao rebanho. No fim estende-me a toalha já manchada na limpeza da adaga. <span style="FONT-STYLE: italic">Não temas filho, a circuncisão também não é uma desonra</span>.<br /></div><span style="FONT-STYLE: italic"><br /></span>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-9811083008355441362010-06-01T02:10:00.001-07:002010-06-01T02:42:44.480-07:00idoneidade animal<meta content="text/html; charset=utf-8" http-equiv="Content-Type"></meta><meta content="Word.Document" name="ProgId"></meta><meta content="Microsoft Word 12" name="Generator"></meta><meta content="Microsoft Word 12" name="Originator"></meta><link href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5Cr%5CDEFINI%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml" rel="File-List"></link><link href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5Cr%5CDEFINI%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx" rel="themeData"></link><link href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5Cr%5CDEFINI%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_colorschememapping.xml" rel="colorSchemeMapping"></link> <m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent><style>
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<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- uma investida sobre a apatez do carácter de um homem bom.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nascido no dia do primaz celeste, aquando do ardente raiar da lua alta. Entre o medo não sentido e a fúria da tarefa na teimosia por cumprir. Ao mundo finalmente aceitam-se apostas, mancebos e amantes, a quem dele irá dispor. Do pó fez-se pó do pranto inicial fez-se um saudoso uivo – não tem mais medo não, é chegado aquele que estava para ser. Ao relâmpago do passado tirano apronta-se o foguear da cinza aquando na calmaria da raiva liberta no calhau sem temor agora espectro agora poeira aprendida a saber venerar.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Da carne fez-se carne, da podridão existencial fez-se luz, da luz augura a certeza da incerteza do sonho censurado, após o rasgo de ardor a entrada triunfal na cárcere consentida à cópula exorcizada e mais mal nenhum há-de vir – tem medo mais não, mais mal nenhum há-de vir. E é tentar conceber como qualquer bafo de civilização foi sequer possível com tamanha sedução ao seu dispor.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Longe da perseverança da vida domado dos sonhos de serão, morno no tempo de inverno e é tudo nimbe e é tudo frio e ousado e tudo selvagem no censo último suspirado ao desgosto do amargo que sabe vir. Gentil pastor cor de que à tanto te espero, para a tarefa que te deixei valorosa no aguardo supremo que teus olhos anis são ideais a cumprir.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Com as diocesanas compondo o proscénio, cerro ao fim do púlpito proferido em um acto consulado – ide canhões formais do berro aulido. de espectadores compõem agora a cena última nesta sem nada a que atender, pois que seu destino foi cumprido, pois que consumado o acto leito na noite terminu ele está aí – teme mais não, ele está aí.</div>rogériohttp://www.blogger.com/profile/15616411237210416160noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-51133595381384034372010-05-26T10:43:00.000-07:002010-06-24T03:53:47.026-07:00As Fundações<div style="TEXT-ALIGN: justify"><div style="TEXT-ALIGN: center"><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Nuno Araújo</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Ao Magnífico Rogério de Maia Ferreira</span><br /></div><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Valoroso príncipe, é de senso que um servo não pode oferecer mais do que possui e, ainda assim, a tanto não lhe chegando o engenho e a fortuna, que ao menos demonstre a humildade de reconhecer que sempre acreditou mais alto que a sua real mesura. Pois então que este documento correspondendo a uma cartografia de pântanos e desertos não seja geografia que lhe desperte a ambição, se é firme que a lealdade de um homem se mede pela sua fé, acreditando este súbdito aí residirem os alicerces deste mundo ao ponto de estar disposto a enfrentar a ira do seu soberano, que no fim, pelo menos pela desgraça, neste aspecto, possa ficar provada a sua sincera devoção.</span><br /><br /><br /><br /><div style="TEXT-ALIGN: center"><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">I</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">As Fundações e o Tempo</span><br /></div><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">“porque desde o início me tem vindo a ser ministrado o conhecimento do fundo e continuamente negada a luz da beleza, resta que a minha missão neste mundo seja dar a conhecer o chão a esta altura toda”</span><br /><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Quem de entre nós, ao se deparar com a glória das edificações humanas, duvida que o seu poder advenha da altura, fecha os olhos e procura rastrear pelo odor do excremento os escoadouros das suas fundações?</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Contudo, desde o princípio dos tempos que um dos maiores atributos das sociedades tem sido a capacidade que demonstram para resistirem às forças da natureza e se desembaraçarem dos seus próprios dejectos.</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Os primeiros exploradores modernos que se depararam com a existência de Machu Pikchu, foram assombrados pela descoberta de uma edificação humana a dois mil e quatrocentos metros de altitude, mas apenas muitos anos depois quando a estupefacção deu lugar à lucidez é que se deram outros à evidência que todo aquele esplendor só chegou aos nossos tempos devido a um avassalador sistema de drenagem.</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Quer falemos de templos ou ideais, tronos ou princípios, palácios ou leis, a sua capacidade de perdurarem nos anais encontra-se não na beleza das virtudes que ostentam ou nas manhas da pérfida que abrigam, mas na robustez das suas fundações e, porque são estas construídas antes de tudo o resto e o seu único objectivo é resistir ao tempo, tanto podem conceder sucesso ao carácter como ao logro. </span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Quantas cidades não foram, são e serão destruídas porque os seus cidadãos, convencidos da virtude das suas aspirações, descoram as defesas e quantas mais ainda, sendo antros da mais maldita treva, porque assentam em alicerce firme, não resistiram, resistem e resistirão a toda a investida?</span><br /><br /><br /><br /><div style="TEXT-ALIGN: center"><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">II</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Da natureza das Fundações</span><br /></div><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">“é um facto que o honrado tem subsistido mais pela sua capacidade de sofrimento do que pela luz do seu ideal, ao passo que o egocêntrico necessita constantemente do conforto para perdurar na sua ilusão” </span><br /><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Antes de mais importa definir que, para efeitos do que aqui se discute, ou seja, a arquitectura das sociedades, fundação diz respeito a todo e qualquer sistema basilar onde se apoia um edifício ideológico. </span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Seja qual for o tipo de fundação que estejamos a tratar, quando falamos de ideais a sua substância é sempre a fé; a capacidade de acreditar constitui invariavelmente a matéria-prima de qualquer edifício social. A este nível, no entanto, é ainda longe a orientação, isto é, a identidade da fé, aquilo em que ela se materializa, ou pretende materializar. Desta forma encontramo-nos numa dimensão em que não existe, ou melhor, não é possível trabalhar a religião, a ética, mas apenas o sucesso ou o fracasso; em que interessa sobretudo o alcance, a disposição e a interacção de cada um dos elementos na estrutura final. </span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Partindo destes pressupostos* é possível especular acerca das características que conferem solidez às fundações e consequentemente acerca das quais resulta a sua fraqueza. Assim a característica mais desejável que uma fundação pode ter é um compromisso entre a sua capacidade de suster os seus ideais e a sua tempodianámica, isto é, aptidão para experimentar baixa resistência à passagem do tempo. Relativamente aos aspectos que conferem ou podem conferir tal integração de vantagens, explicitá-los aqui seria como abrir as comportas de um oceano, para além do mais a maior parte deles são óbvios e já se encontram sobejamente estudados. Importa, portanto, e acima de tudo o resto, reter que todos os ideais são suportados pela crença e que esta apesar de ser um dom pode conferir maior ou menor estabilidade de acordo com a sua estrutura.</span><br /><br /><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;"><span style="font-size:100%;">*Relativamente a todos estes aspectos seria possível apresentar uma rede de argumentos que sustentasse as conclusões sugeridas, no entanto, para além do facto dessa estrutura exigir um labor penoso e enfadonho, em nada concordante com o espírito rebuscado tão do agrado de vossa excelência, apresentaria três desvantagens. A primeira dizendo respeito à liberdade de pensamento, pois é previsível que a introdução do detalhe lógico na equação iria direccionar para um caminho que para além de não ser o único poderia até não ser o mais eficaz, o que só dificultaria o estudo. A segunda refere-se ao estabelecido pelo seu autor das pretensões mitológicas do documento suplantarem as suas esperanças científicas, ou seja, quanto menos explicações melhor. Por fim acho que um homem a sério não se esconde atrás da dialéctica, e já que teve este a coragem de apresentar o seu pensamento tem também o dever de assumir a responsabilidade pelo facto da conta dois mais dois não dar cinco, ao invés de dizer que a culpa é da matemática.</span> </span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;"></span><br /><br /><br /><br /><div style="TEXT-ALIGN: center"><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">III</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">A Arquitectura dos Valores</span><br /></div><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">“e, assim que em ónus do dom lhes é condenado o exílio da ética, passando esses toda a sua vida na missão subterrânea de lidar com as fundações é natural que fiquem insensíveis aos palácios da virtude”</span><br /><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">No entanto, o sucesso de uma fundação encontra-se indelevelmente ligado ao carácter dos ideais que sustenta. Coloquemos esta afirmação na forma de exemplo. É uma evidência da nossa experiência que um alicerce necessita ser tanto mais capaz quanto maior for o esforço exigido pelo ideal suportado, desta forma um ideal grandioso terá necessidade de uma fundação igualmente abrangente, ao passo que um ideal mesquinho pode muito bem sobreviver à custa de qualquer fundação elementar. A força dos ideais reduzidos encontra-se no seu número ao passo que a vantagem dos extensos encontra-se na sua resistência.</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Prosseguindo o nosso caminho a partir daqui surgem então três perguntas às quais se torna necessário responder, são elas: como se avalia a dimensão de um ideal? Qual é a relação, se é que existe, entre a dimensão e a importância de um ideal? E, onde acaba uma fundação e começa um ideal? Relativamente à primeira pode-se dizer que o tamanho de um ideal é directamente proporcional ao número de indivíduos que envolve ou pretende envolver. No que toca à segunda fica dito que não existe uma relação obrigatória entre os dois conceitos uma vez que as consequências dos ideais não tem que ver somente com o número dos que neles crêem, mas com o resultado de uma série circunstâncias, a maior parte das quais exteriores ao edifício. A terceira exige um maior número de considerações e desta forma será tratada mais detalhadamente.</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">De todos os aspectos envolvendo o assunto tratado talvez seja este o mais esquio na fixação do actual documento. De facto não existe nenhum utensílio, técnica ou método que nos permita colocar uma fronteira entre fundações e ideais, para além da noção de que ideal é o objecto da fundação e a fundação o instrumento do ideal. De uma forma muito simplificada pode-se dizer que fundação está para verbo como ideal está para substantivo. No entanto, recorrendo a uma perspectiva metafórica é relativamente simples distinguir um ideal da sua fundação. Pensando, por exemplo, em liberdade, é fácil separar o seu conceito (ideal) da sua substância (fundação). Toda gente sabe, com maior ou menor rigor, dizer em que consiste a liberdade, contudo, no que toca a definir a forma pela qual ela se providencia limita-se a dar exemplos práticos de algumas das suas manifestações. O que é errado, uma vez que as suas fundações não se revelam, ou melhor, não se comprometem com os ideais, isto é, em diferentes circunstâncias dois actos díspares podem conduzir ao mesmo resultado circunscrito.</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Desta feita não é de espantar a afirmação que diz vivermos num mundo de aparência. Com efeito em toda a arquitectura das sociedades modernas se tem visto uma maior preocupação com a exuberância dos ideais que propriamente com as suas fundações. Quero dizer, parem por um momento e observem os escaparates. Palavras cujos conceitos demoraram centenas de anos a ser substancializados, (i.e. fundados) por grandes civilizações, são agora marcas registadas à mercê de qualquer discurso. É fácil hoje em dia dizer democracia, justiça, liberdade, amor… enfim, as ruas estão cheias de estátuas, tribunais, parlamentos, catedrais. Mas não sendo as suas fundações continuamente renovadas que mais são estas estátuas, estes tribunais, estes parlamentos, estas catedrais, que túmulos, que sepulturas, que mausoléus e que jazigos? As palavras são símbolos e os símbolos cumprem somente a sua função que é manterem-se constantes quando tudo o resto se transforma, o seu interior contudo tem que ser sucessivamente purgado, reavaliado, aperfeiçoado, o tempo encarrega-se desta função por intermédio de vários agentes, entre os quais se encontra o homem, no entanto é necessário que o ideal, a palavra, possua fundações que não ofereçam resistência a esta renovação, um bom sistema de drenagem que escoe a água da chuva e que se desembarace facilmente dos detritos.</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;"></span><br /><br /><br /><br /><div style="TEXT-ALIGN: center"><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">IV</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">O Dilúvio e a Torre de Babel</span><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: center"><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">“multiplicam-se os sacrários, mas onde está a santidade?” </span><br /></div><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">De acordo com o descrito pela Bíblia, o todo-poderoso, quando foi sua intenção lavar o pecado da face da terra, mandou vir as chuvas e afogou os viventes, ficando desta forma provada a fragilidade das fundações terrenas. Ninguém estava preparado, excepto Noé, que achou graça aos olhos do seu Senhor, mas apenas porque recebeu instruções e construiu uma arca, isto é, se não tivesse usado a arca, morreria apesar da sua virtude, da mesma forma que havendo piratas na altura estes teriam sobrevivido, apesar da sua iniquidade. E, de facto, é simples conhecimento empírico que as chuvas atacam indiscriminadamente e não poupam ninguém. O ser humano é testado pela sua preparação, a sua capacidade de entender o mundo e não pela sua pérfida, o seu altruísmo ou o seu carácter. A natureza não favorece corações, para a natureza, bom é aquele que faz bem as contas. Em todo o caso, as virtudes que por aí se tem propagado aos quatro ventos, o que são? Salvos condutos, bulas, estilos de vida, que se adoptam de uma vez para todo o sempre? O que pretendem alcançar? Descargos de consciência, longas temporadas descontraídas em frente a uma televisão? O verdadeiro homem honrado não é aquele que tem princípios mas aquele que acredita que ele próprio é um princípio e que, desta forma, não os desprezando, mas sendo muito mais que os seus desejos e as suas ambições, se torna discípulo da natureza.</span><br /><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Outra história cuja análise nos poderá ajudar a compreender melhor a importância das fundações trata do destino da torre de Babel.</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Em ordem a destruir a torre de Babel símbolo de união e poder dos homens, Deus, pretendendo evitar que estes realizassem todos os seus projectos, atacou as fundações e não os ideais, isto é, derivando a língua dos construtores ele logrou retirar o cimento que unia as suas crenças e dividiu uma enorme crença em várias crenças idênticas, mas isoladas. E deste golpe fatal, pode-se dizer, nunca mais a humanidade recuperou. Todos os povos continuaram a desejar o mesmo, isto é, a possuir os mesmos ideais, mas deixou de existir diálogo, pelo que se tornou impossível alcançar qualquer tipo de projecto. O ideal da torre era demonstrar em altura a glória do povo de Babel, cujo maior orgulho era a união, alcançar o céu seria, por isso, apenas um símbolo, uma evidência desse estatuto. Hoje, contudo, o que se passa é o contrário, constroem-se os símbolos e espera-se que a sua altura, magnificência, exuberância e poesia inspirem a união do povo. </span><br /><br /><br /><br /><br /><div style="TEXT-ALIGN: center"><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">V</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Os Jardins Suspensos da Babilónia</span><br /><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">“as liberdades são as catedrais dos tempos modernos”</span><br /></div><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Mas todo o ideal tem custos, necessita ser trabalhado continuamente. Habitar uma casa não é entrar nos seus domínios e repousar sob o seu abrigo, isto também o fazem os salteadores, mas, para além disso, abrir as janelas e deixar entrar o sol, cuidar do seu jardim, repor a telha que se partiu, encerar o soalho, isto é, tomar todas as providências para que ela não perca a sua identidade no tempo. É apanágio das sociedades modernas exibir as suas conquistas em tratados, acordos, compromissos, mas nas fundações de tudo quanto edificam estão presentes portas dos fundos, saídas de emergência, não porque escasseie a fé nos ideais professados, mas antes porque se tem consciência da fragilidade das fundações. Vivemos numa sociedade que se contentou e continua a contentar com a pilhagem dos valores. Fomos a Atenas, roubamos uma pedra da Ágora e colocámo-la num parlamento em Bruxelas, fomos a Jerusalém, encontramos um pedaço de lençol e colocámo-lo numa basílica no Vaticano, fomos ao Mundo Novo compramos o sonho e colocámo-lo num cinema em Paris. Entretanto saímos à rua nas nossas cidades e procuramos as fundações. A história não nos pertence, não somos herança da vontade que a construiu, o testamento dos nossos pais é-nos lido numa língua estrangeira. Algo contrariados ainda procuramos assumir o património, mas o fato que nos deixaram não nos serve. Olhamos em volta e tudo o que nos podem oferecer é novas liberdades, lenitivos mesquinhos de fundações insignificantes que se exibem nos frontispícios e pela rotatividade dos quais podemos riscar os dias, as semanas, os anos da nossa pena perpétua; a quem não se conhece a si próprio mais não resta que se embriagar no oceano das liberdades. Eles decidiram ser estrangeiros e eu o que sou? </span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">E é nessa altura que nos percebemos nascidos no Exílio. </span><br /><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;"></span><br /><br /><br /><div style="TEXT-ALIGN: center"><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">VI</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Para uma Renovação das Fundações</span><br /></div><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">“não, o verdadeiro homem moderno já não dá nomes, ignora os conceitos, já não quer telhados, nem sacrários, nem castelos, ele próprio é o seu ideal, e o seu ideal é ser fundação da humanidade”</span><br /><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Não é, no entanto, porque se perdeu do seu passado e nasceu órfão que o homem moderno se encontra desprovido de futuro no mundo. Muito pelo contrário, pois é precisamente por auspício desta contrariedade que ele se encontra finalmente em condições de ser parte da inevitável renovação. Ele, que desde o princípio dos tempos foi alicerce de ideais menores que a sua potencialidade, tem agora momento, porque lhe foram abstraídas as responsabilidades e as esperanças do sangue, de se fazer parte da bandeira de cidadãos do mundo que se espera representem a Terra perante o Universo. Sem prestar vassalagem a tronos, a ideais, a sedes, a capitais, é servo unicamente das suas capacidades. Ao contrário do homem que o precedeu não se deixa seduzir pelas ilusões de grupo, está só, mas pela primeira vez com consciência plena da distância a que se encontram os outros, funde um sentido mais íntimo de comunidade e, enquanto os demais brincam aos países, lança o olhar para lá da via láctea na esperança de uma nova companhia.</span><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">Contudo, para que se possa encontrar, este homem moderno necessita do seu caminho, uma formação, se por este termo se quiser entender as providências necessárias a que cresça uma fundação potencial. Desta forma serão mais propícias ao seu aparecimento as sociedades em que se privilegia o conhecimento como uma libertação e não como mera vantagem competitiva, uma vez que estas últimas incentivam apenas a que o homem se torne mais forte que os seus adversários, ao passo que a primeira luta para que ele atinja o pleno das suas capacidades. Ainda assim este contributo constituiu apenas um primeiro degrau, a instrução formal limita-se a equipar o homem moderno dos símbolos certos, mas é o mínimo que hoje se nos exige, o resto do percurso será com ele.</span><br /><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:130%;">E agora que cheguei a estes termos, permita-me vossa excelência que vá um pouco mais longe no auguro do surgimento desta estrela ainda tímida, mas infinitamente capaz que se avizinha a que eu tomo a liberdade, por vias da responsabilidade que me calhou no seu achamento, de apelidar de “crença lúcida” e que constitui, por assim dizer, a unidade fundamental do homem que lhe anuncio. Dê-me licença que lhe diga que, para iluminar esta aurora celestial, esta estrela do novo céu, foi de si que desviei a luz.</span></div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-75562122947135578722010-03-25T03:46:00.000-07:002010-05-24T02:19:37.721-07:00Oração ao Século XXI<div style="TEXT-ALIGN: center">Ouça, senhor,<br />por acaso não tem lume que me empreste?<br />de qualquer forma agradeço, já estava a contar que não, bem vistas as coisas até seria ridículo que tivesse,<br />o senhor não fuma, pois não?<br />pois, mas sabe, uma pessoa tenta sempre,<br />é que eu já estava para aqui há um bom bocado pensando para mim naquela perspectiva, e se o azul deste céu… constrangido, e se é desta? na dúvida, se é que me entende, mas não o queria incomodar, aliás que, decidindo-me por pedir, acabei por ir contra os meus princípios,<br />não era propriamente uma emergência e ainda assim não resisti à curiosidade,<br />não sei se me percebe, não sei sequer se me está a ouvir, e nestas coisas tenho sempre medo de não falar a mesma língua,<br />fala-se, fala-se e depois vai-se a ver e é como se estivesse calado o tempo todo,<br />o senhor não tem medo que deixem de o ouvir? quero dizer, na pior das hipóteses que não entendam aquilo que diz e até o manipulem contra si, imagine que deixava uma mensagem que era depois constantemente reinterpretada para servir outras intenções que não as suas… eu sei que é uma situação peculiar, mas já pensou? enquanto estou aqui, por exemplo, à espera do autocarro, não tendo com que acender o cigarro, ponho-me a pensar como se costuma dizer na vida e, sem a orientação do tabaco saem-me coisas destas, pensamentos em bruto, nada que se esfume por aí, entende? de maneiras que tenho de usar de disciplina,<br />agora, repare, estou a falar consigo e não sei como seria nesta paragem de autocarro…<br />mas a culpa não é apenas minha, estes arquitectos por exemplo, levantam dois paus ao alto, cobrem com uma folha ondulada de ferro zincado, colocam um banco e está feito,<br />enfim, não se pode dizer que seja um prodígio de estética aristotélica, mas faz sentido,<br />por se tratar de uma instalação transitória que o próprio conceito compreenda um determinado desconforto que não permita ao cidadão esquecer que está apenas de passagem,<br />mas peço desculpa, já deve estar farto das minhas queixas, e a mais que não tem culpa alguma, um distinto tão pacato como o senhor, pode parecer-lhe um absurdo, pela ausência de intimidade e tudo mais, o que lhe vou dizer, mas a verdade é que gosto de falar consigo, sabe, é impressionante o que o seu silêncio fala e eu sou homem de dizer logo as coisas,<br />é que nesta vida não há tempo para cigarros, compreende? hoje estamos aqui, amanhã… quem sabe?<br />depois chega-se atrasado um minuto e perde-se o comboio, o autocarro, a hora de entrada no trabalho, a assiduidade, a margem de manobra, os intervalos, a hora de saída, o toque da escola, chega-se atrasado para recolher os miúdos,<br />e pode ser que eles nos agradeçam o tempo extra porque estão interessados numa catraia da quarta classe,<br />mas também pode acontecer vem os pais todos menos o meu,<br />e as mães responsáveis não admitem este tipo de deslizes, o que as mães não gostam as mulheres não suportam e o homem à noite porque foi mau pai à tarde está tramado na cama,<br />e sente-se um animal, uma besta que não quer chegar tarde à escola para pegar os miúdos porque à noite não aguenta sem mulher,<br />é assim que elas nos querem fazer sentir, mas será isso a sentença do que somos?<br />também faz parte, claro, e daí a perversão disto tudo se é que me entende…<br />colocando de lado o pudor,<br />afinal eu estou aqui para ser franco consigo,<br />de maneiras que lhe digo que é esse o trunfo delas, a capacidade que têm, transformando-se num objecto, de nos fazer sentir animais perante as crianças, quero dizer… eu nem sequer tenho filhos,<br />mas toda a gente sabe que reside neles a seriedade deste mundo,<br />e então as mulheres, porque são as portadoras da virgindade, também se acham na posse do destino da dignidade humana,<br />o senhor entende isto, eu sinto que entende tudo, e deve perceber também que muita gente prefira ser objecto, um simples instrumento que cumpre a sua função, útil ou inútil, mas no entanto livre de vícios, de fraquezas, imoralidades,<br />eu, porém, afirmo, aqui, diante de si, sem qualquer tipo de orgulho mesquinho, que prefiro mil vezes ser o animal, e quando estou lá no fundo, que no caso dos homens como eu costuma ser o auge,<br />dou-lhe a conhecer este aspecto da minha profunda intimidade porque adivinho que já o conhece,<br />não me sinto sujo, nem sequer depois um farrapo de alma humana lembrando a bandeira de espírito que poderia ter sido,<br />sabe, em dias que anda o meu pensamento menos capaz mas infinitamente mais lúcido dou por mim a dizer,<br />já deve ter ouvido muita coisa parecida e se é perspectiva que o ofende, peço que me perdoe,<br />que o único trunfo do homem casado é a traição,<br />sim, estou a falar do adultério,<br />eu seu sei que é uma posição degradante, triste, mas, excluindo a força física, que hoje é uma vantagem vergonhosa, acaba por ser essa imoralidade o único poder do homem,<br />não me espantam portanto as tradições poligâmicas e o que lhe posso dizer acerca delas resume-se a uma frase,<br />veja bem quantas esposas não precisam certos indivíduos de contrair, depreende-se que sábios, de forma a reunir em si poder suficiente para se cumprirem o tipo homem que os seus costumes preconizam,<br />no entanto, não posso deixar de sentir pena por aqueles maridos que, não se encontrando protegidos por estes e outros costumes, se vêm obrigados, entre aspas, talvez até mais por falta de criatividade que outra coisa, a pular a cerca, se é que me entende,<br />não querem ser animais, pelo menos não em casa, é compreensível…<br />por isso fazem o trabalhinho fora, e desta forma já podem, poderiam caso as esposas tivessem sentido de humor, chegar a casa e dizer, hoje sou homem, deixei a besta lá fora,<br />e seria assim que se encontrando em sinceridade de se abandonar à admirável providência feminina poderiam agir nos tempos certos, as crianças, a casa, o trabalho, a família, a cama, a paixão, o arrebatamento, o amor, o futuro, o sonho, as viagens, o estatuto, o respeito, enfim, todas essas coisas que apenas as mulheres se encontram em posição de comprar e que proporcionam por assim dizer a dignidade humana,<br />é claro que elas preferem o homem, mas também não admitem perder o domínio sobre a besta,<br />espero não lhe estar a maçar com estes assuntos, afinal são considerações simples, pensamentos humildes, insignificantes, para não lhes chamar outra coisa…<br />mas não é todos os dias que se tem oportunidade de falar com uma entidade como o senhor,<br />desgraçado daquele que não a aproveita, para mais que eu tenho, quero dizer, não aqui, mas numa gaveta em casa, a recomendação escrita, como se fosse receita medicamentosa, por mão de um doutor inscrito na ordem e portanto autorizado a exercer a sua arte, que aponta dever eu procurar desenvolver com interlocutores em quem confio conversas profundas, isto é, que rocem a minha intimidade, está a ver?<br />por conseguinte, enquanto espero o autocarro não achei por mal, dando-me conta da sua disponibilidade, fazer-lhe confidente, estou à vontade porque não parece nada que seja um daqueles que faz fretes, estou certo?<br />bom, de qualquer forma, para concluir isto e porque não gosto de me alongar muito nos pensamentos, chega-me apenas dizer que as mulheres vão acabar aquilo que os negros começaram, e é por isso que eu ainda não casei,<br />mas por agora o que mais me ataca o juízo é esse autocarro que nunca mais vem, não é que não esteja grato por este tempo aqui consigo, mas veja que passam carros, motas, bicicletes, carrinhas, cadeiras de rodas, triciclos, aviões, navios, pássaros comboios, moscas, formigas, diligências, carroças, tartarugas, patins, skates, esquis, pranchas, balões de ar quente, teleféricos, elevadores, foguetões, papamóveis, elefantes, camelos, huskies siberianos, trotinetes, carrinhos de rolamentos, crias de javali, camiões do lixo, tanques, refugiados, tractores, ambulâncias, procissões funerárias, desfiles de carnaval, canoas, vigílias, manadas de gnus, manifestações, cardumes de sardinha, cometas, presuntos voadores, galinhas com dentes, porcas que torcem o rabo, paradas militares, greves, filarmónicas, cortejos, andores, unidades móveis de combate a incêndios, limousines, galeras, parapentes, helicópteros, séquitos reais, comemorações da independência, sinfonias, legiões, cúrias romanas, protestos contra o preço do leite, jubileus, bodas de prata, homenagens, testemunhas do apocalipse, vagabundos, correctores da bolsa, jangadas, filósofos distraídos, sacas de supermercado,<br />e nem sinal do autocarro para o trabalho,<br />sou-lhe sincero, começo a acreditar que não vem, pode ter tido os seus inesperados, não digo que não, ele há imprevistos, é contas para pagar, retenção de líquidos, não sabemos até se aconteceu de ficar empanado em alguma subida, motores gripados é o que não falta por aí,<br />em todo o caso se o dever dele é fazer carreira, o nosso é esperar, pelo que de nada nos serve pormo-nos para aqui a pensar que ele não vem,<br />connosco é o estarmos aqui, se ele vem ou não, isso não é da nossa conta,<br />demora?<br />para isso é que está aqui este banco, a gente senta-se, cruza a perna, saca do tabaco, olha em volta à procura de lume e se não houver coloca o cigarro atrás da orelha, e entrelaça os dedos como se não tivesse nada para dizer, e esta é a única lucidez ao alcance do homem que não tem dinheiro para um táxi, de resto, se tivesse, também não o vou negar, nem sequer estava aqui a falar consigo, ainda que isto se possa vir a transformar em mais que uma conversa de circunstância e transcenda até os pressupostos da sua génese e enfim acabe eu por faltar ao trabalho para ficar a dialogar consigo, como se esse meu compromisso passasse a ser o autocarro para atingir o objectivo de prosseguir com esta prosa,<br />desculpe, eu tenho partido do princípio que à minha semelhança também o senhor espera o autocarro, mas posso estar equivocado, de facto vem agora à lembrança de que há uns bons minutos chuviscava e tanto quanto me é dado a supor até pode ter vindo somente abrigar-se, entenda que não me cabe a mim avaliar o motivo, não me diz respeito, se preferir até posso fazer de conta que o senhor nunca esteve aqui, de qualquer forma tenho o hábito de falar alto, já ninguém estranharia,<br />bom, ainda ontem… e até não sei se o senhor foi um daqueles que me ouviu, em todo o caso no fim disto um homem apenas pede que não lhe julguem a vida toda à conta de um episódio destes, ou, pelo contrário, sendo a questão precisamente o inverso, que não o condenem pela escassez destes momentos,<br />lembra-se daquele maltrapilho que passou por aqui há pouco? Esteve aqui comigo no outro dia e eu, que até nem sou destas coisas, vou-lhe confessar, falou mal do senhor quanto pôde, e não é o único, teve coragem, o bandido, mesmo não o conhecendo, de resto, posso-lhe assegurar, assim como ele há muita gente, e, em certa medida, imagino, para si, até deve ser melhor que não dizerem nada,<br />sabe, é que quem não é falado é esquecido, e isso é uma coisa que aposto o senhor não quer, arrepia-se só de eu falar,<br />compreendo, é deveras uma realidade assustadora, eu falo por mim, não tenho qualquer curiosidade com o dia em que me vou conhecer, aliás, já que falamos disso, nem sequer é do meu interesse que chegue o autocarro,<br />que se atrase pois, que tenha um furo, que seja mandado parar pela polícia,<br />mas à conta disto não me julgue um covarde, um homem deve ter a noção das suas limitações e, de mais a mais, eu estou a falar consigo, não estou?<br />acredite em mim quando lhe digo que caso se desse a circunstância de o senhor se encontrar a votos para a câmara, o ministério, a presidência, pode estar seguro que eu exerceria o meu poder democrático de um sobre nove biliões para o beneficiar e só não digo que seria um dos primeiros porque, a medir pela pontualidade do autocarro, talvez até já nem chegasse a tempo de ser um dos últimos,<br />fora isso também não vejo que mais possa fazer, somos, eu e eles, cada vez mais dispensáveis, sendo esse aliás o grande paradoxo da demografia, quantos mais e na consequência mais poderosos juntos, menos indispensáveis e fracos como indivíduos, ao ponto de podermos colocar como hipótese o facto da humanidade se encontrar cada vez mais diluída, não sei se me entende,<br />o raciocínio é o mesmo que os antigos faziam em relação ao sangue, mas aqui<br />trata-se da alma, o que só vem confirmar as profecias que por aí crescem como cogumelos, isto está cada vez pior, não é o que se tem dito? mas, caramba! eu não estou aqui para me queixar, pelo menos com nada que não diga respeito ao autocarro, contudo, já que aqui estou, pergunto-lhe, concorda com isto, quero dizer, com os pessimistas, ainda que o pessimismo de muitos mais não seja que um cepticismo ressentido?<br />não me leve a mal nisto que lhe vou dizer, mas o senhor é um diplomata de gema, consigo não ganha ninguém e fica toda a gente a ganhar, quer-me parecer que tem a capacidade de fazer sobressair nos outros a abnegação,<br />estou aqui à espera do autocarro há muito tempo e era capaz de o deixar passar à frente, mesmo desconhecendo a sua urgência, de certa forma sinto que ficaria a ganhar, e preste atenção nisto que lhe vou dizer, mesmo que o senhor daqui fosse para casa sentar-se no sofá ver futebol e beber cerveja à custa de uma esposa que lhe trata da casa, da comida, da roupa, da descendência e dos apetites carnais,<br />a sua vida íntima é consigo e não preciso que ela me carimbe seja o que for, se é que me entende, agora que cumpra o seu papel isso é outra história,<br />mas repare como eu hoje estou taralhão, a intrometer-me assim na vida dos outros, e como tem que fazer isto e devem fazer aquilo e assim é correcto e assado não está bem,<br />taralhão, sem dúvida, hoje era bom que o autocarro viesse,<br />pergunto-me quais serão as desculpas para o atraso, mas nunca tive o privilégio de ouvir uma que seja, depois deste tempo todo o que se pode dizer?<br />olha, eu vinha mesmo que não esperasses?<br />é que é preciso ter estômago, chegar passado este tempo todo, que eu imagino seja uma vida, e simplesmente dizer é agora, podia ser antes, mas também depois, e ao resto somos nós que prestamos contas, que esquecemos de pagar as contas, olhar pela saúde, falar aos amigos, cumprir as resoluções do ano novo,<br />quantas vezes já disse aquela coisa de menino não vou adiar mais, e tendo em conta o que se tem visto, sei lá se não é precisamente nessa altura que o autocarro se decide a vir, não, o mais prudente é não ter na agenda nada definitivo, nada que para além de exercer efeito nas tarefas e na sua divisão pelos dias, influa os próprios dias, os atrase e muito menos os adiante, para além do mais, assim ,estamos a falar do historicismo sociológico e o senhor já sabe onde isto vai dar, sabe, que é como quem diz há pouco vi-o chegar daquele lado, que é para onde nós vamos, e por isso é que digo, de resto, por vezes, eu próprio também sou homem para acreditar no futuro,<br />ainda há dias, estava aqui à espera do autocarro e passou uma mulher… como é que eu lhe hei-de explicar? muito sugestiva e dei por mim a pensar, eu que nem sequer sou de fazer planos, que bela mulher para o meu primeiro divórcio!<br />para todos os efeitos deve-se ter, por defeito, o raciocino completo, não acha?<br />Já que todos os dias aparecem novos messias, e eu… será que toda a gente assume a mesma perspectiva na altura de meter a cruz no boletim?<br />pode ser tal e qual, ou então, para que não me acusem de machismo,<br />não o senhor que eu sei não sofre dessa costela, mas os poetas,<br />que bela viúva ela dará um dia!<br />não sei, alguns fumadores, pelo menos, já dizem que se é para gastar dinheiro que ao menos seja numa coisa que não contribua para que ele venha a fazer falta,<br />a determinada altura conheci mesmo um individuo que dizia,<br />eu, se aposto na lotaria, é para avolumar o prémio do vencedor,<br />era um barbeiro, o meu barbeiro a determinada altura, e talvez devesse interceder por ele agora que aqui estou,<br />eu não rezo para ser atendido, mas para crescer o suplício deste oceano,<br />é a lua que enfeitiça o lobo, ou é o lobo que encanta a lua?<br />não interessa, se eu contar ninguém vai acreditar que o autocarro tenha demorado tanto, ao ponto de falar consigo, vão pensar que estou doente e de especial forma que a doença é o leito da preguiça, e, apesar destas afirmações não passarem de frases constituídas por palavras cuja semântica visa apenas me ofender, não deixam de ser verdade, o bom de tudo isto é que, agora que o admiti, aqueles sujeitos que nos escutavam mais não têm que meter a viola no saco e irem-se embora,<br />carne! aqui? não,<br />de formas que aproveitando este momento em que estamos sós, e antes que o senhor se resolva a ir também, isto é, que chegue a sua hora, porque neste aspecto não possuo ilusões, o destino dos que esperam pelo autocarro é até ficarem sós,<br />para lhe dizer que anda por aí um sujeito, vendedor ambulante, nos ajuntamentos populares, porque consiste nesse tipo de artigos o seu negócio, martelinhos para o São João, cachecóis para o futebol, balões para os arrais,<br />e quando se apagam as luzes,<br />quando toda a gente na expectativa levanta os olhos às estrelas esperando o fogo de artifício, enamorados, de mãos dadas, os de companhia com a abstracção do seu que outro corpo lhes proporciona, os de consciência sós na angústia da missão que lhes foi condenada de fazer verdadeira a ilusão dos outros,<br />quando antes um momento que vividos na intimidade será no seu tempo próprio a cada um tal o travo da morte e tudo em redor é, um segundo que seja o silêncio, engolir em seco, aqueles que acham que lhes será feita alguma pergunta, se vê esse tal sujeito de óculos arrastando pelo descampado um saco plástico, preto, cheio, arrasta, com o saco encostado à anca, procurando vender, busca com o seu estrabismo, brinquedos, alguém, enquanto toda a gente espera do céu, que queira fazer feliz, sem desistir, uma criança,<br />e eu não sei o que o senhor poderá fazer em relação a isto, neste período da história notável em que o principal desafio é saber como a transmissão de um sistema sincronizado de um determinado conteúdo informativo difundido por todas as redes de distribuição televisiva pode modificar a tendência natural das coisas?<br />como combater a sabedoria da massificação que resiste a deixar-se levar por assuntos com um grau não desprezável de efectividade? e até que ponto o terrorismo é o sistema mais eficaz de garantir a necessária instabilidade nos mercados financeiros, e o conflito militar oficial o meio mais sólido de tamponamento da harmonia que se pretende estabelecer,<br />deverá ser isso, veja, porque, de uma certa perspectiva, não geral, admito que somente particular, para todos os efeitos apenas minha, única e exclusivamente, mas que ainda assim não é o mesmo que dizer que é da minha total responsabilidade, foi a este grau de civilização que chegamos após, ninguém sabe ao certo, milhares de anos de sociedades organizadas, repito, pelo menos visto daqui, deste promontório em que me encontro, que nem sequer é muito elevado, mais propriamente permitindo-me observar ali, até à padaria da esquina se há gente a entrar ou não, mas que não me dá alcance de saber o que se passa para lá da curva, com o autocarro, por exemplo, ou no trabalho, com o meu patrão, com o meu regresso a casa, com o sol-pôr e, para além, numa volatilidade comovida, a forma de como a luz se perde pela expansão do universo,<br />e o senhor, na sua posição por mim atribuída, de meu eterno julgador, terá a legitimidade de me colocar a questão,<br />acha que isso terá existência para além do segundo que o pensou?<br />à qual, sem dúvida, eu responderei, porque, enfim, a mim pertencendo o livre arbítrio de lhe reconhecer a autoridade em mim reside o orgulho de lhe determinar os limites, com outra pergunta,<br />poderá o segundo contar alguma coisa para além da sua própria definição?<br />mas não coloquemos o carro à frente dos bois, desde que me conheço por gente que me dizem,<br />não te precipites, e eu não faço tenção de deitar tudo a perder, não é ter receio de ficar sem emprego, eu que nem sequer tenho trabalho, mas as coisas possuem um tempo certo, um tempo em que já tive uma ocupação, um tempo em que já tive mulher, em que tive filhos, um tempo em que tinha motivos para não chegar atrasado e um relógio onde se marcava tudo isso,<br />depois não sei, será que existem horas para nada disso? uma história para a ausência de acontecimentos, ou, melhor, acontecimentos abandonados pela história, à partes em que reside a sua própria explicação?<br />porque são os obstáculos que ela contorna que cumprem a sua agradável sinuosidade, agora bem vê que estou aqui e de tudo quero no essencial fazer,<br />sim, esqueça tudo o resto,<br />uma única pergunta,<br />se é este o mais profundo desejo no homem, aquele que justifica a humanidade, que dever possui o indivíduo em que ele é trucidado pelo mundo, perante a vida?<br />porque às vezes parece-me que é o sofrimento que paga a factura da felicidade, e nesse caso julgo estarmos perante duas disposições vergonhosas, como a coca cola sem açúcar, por exemplo,<br />palavras que oprimem o homem,<br />mas o que é ser feliz? o que é ser amado?<br />percebe?<br />se for a ver até pode consistir em irmos à rua passear o cão e sermos saudados pela vizinha do terceiro direito, entrar num supermercado para comprar uma cerveja e encontrarmos um colega de escola que não víamos desda primária,<br />e o que é que isso tem que ver com um cão, um apartamento e a vizinha? com um jogo de futebol, a instrução neste país e a Daniela do terceiro ano que era giríssima e que ao que parece está casada com um empresário?<br />hoje qual é a moda da felicidade? viajar, as exposições, os concertos, sexta à noite, ir de helicóptero para o trabalho porque, santa paciência! os transportes públicos hoje em dia são uma desgraça, para mais aqueles que vão para onde não há trabalho algum, pois que, ao fim e ao cabo, como resultado de que ando para aqui a dizer, raios me partam! se a felicidade não é cinco por cento o sorriso do dono da tabacaria e os restantes noventa e cinco vaidade, a inveja provocada nos outros à conta do que se possui, e que, provavelmente por desígnio do mistério da selecção natural, é a forma mais simples de granjear a admiração dos demais, conseguir uma aproximação, não importa o motivo, se isso nos permitir estar juntos, contudo não está a ver ninguém aqui ao meu lado, pois não? adiante, para além destas duas parcelas, em circunstâncias vulgares, ainda poderia guardar dois por cento para o provir, mas há momentos em que um homem não deve ter medo de assumir o seu todo pela sua parte mais barulhenta,<br />não me interprete mal, não é minha intenção afirmar que isto não tem salvação, não se trata disso, no entanto não posso esquecer que, para todos os efeitos, estou aqui à espera,<br />não restam quaisquer dúvidas, não passa disso, sem um porquê, uma explicação, nada, aliás que é precisamente por esse motivo que fizeram as paragens, se se soubesse para onde vamos fazia-se esse término e estava acabado não se pensava mais no assunto, agora assim, com indivíduos como eu, que mais se podia fazer?<br />falando com propriedade eu estou aqui porque de resto também não existem alternativas, ou talvez existam, não sei, já não sei dizer,<br />está a ver ali aquele cartaz de publicidade? consegue ler o que está lá escrito?<br />falar com certeza da verdade é fazê-la mais pequena do que o homem, e nada do que é mais pequeno que o homem o pode salvar,<br />mas, vê? talvez seja isto da humanidade, esta religião das palavras, que no fundo é o culto da morte,<br />queremos porque queremos, com todas as nossas forças, servindo-nos de todos os meios, a matemática, a dialéctica, a ironia, ao nosso alcance, matá-la, talvez de tédio, e dizemos a todas as estrelas,<br />vejam, eu amo! eu aspiro à liberdade! eu acredito para além deste corpo!<br />e eu sei, e eu, e isto que deve estar no fim, eu, porque a mim me encarregaram de, isto, de acabar com, veja! as palavras com elas mesmas, e portanto que isto deve, digo, estar perto do fim, neste momento<br />e agora que o fim chegar,<br />como vai ser?<br />arrumar as trouxas! o que temos para levar, que vejo nestas mãos?<br />mas há ali um horizonte, veja uma nuvem que desprendida das outras viaja mais ligeira, voltar? de algum lado partimos!<br />voltar e dizer que falhamos, que nada se achou.<br />O que viemos procurar<br /></div><div style="TEXT-ALIGN: center">aqueles que nos receberem saberão dizer</div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-58944649328586243342010-03-15T10:13:00.000-07:002010-05-18T04:18:55.360-07:00O Mito da Vida: Parte I - A pergunta<div style="TEXT-ALIGN: justify"><br /><span style="font-size:130%;">Foi Camus após a segunda guerra mundial que colocou, segundo o próprio, a pergunta essencial da filosofia e, por vias de facto, da existência humana também. No seu “Mito de Sísifo” perguntou se a vida merecia ou não ser vivida e apontou como <em>mobili</em> do problema o absurdo, o divórcio entre o homem e o mundo, entre a ânsia de respostas do primeiro e a mudez enigmática do segundo.<br />Não chegou contudo a fechá-la de uma maneira formal, quer dizer, chegou… considerando que o facto de não ter cometido suicídio não constitui prova irrefutável de que a sua resposta seria positiva ou negativa, apenas podemos partir do princípio que terá deixado essa solução ao discernimento pessoal (livre-arbítrio); o que não significa que, fixadas as circunstâncias, não possa o problema ter uma resolução objectiva, isto é, que buscando a hipotética escolha em princípios bem estabelecidos não se possa encontrar termos reais que sejam raiz da equação.<br />Camus, porém, evoluiu a procura de resposta no sentido de achar argumentos que fundamentassem a sua concepção de homem absurdo para a legitimação ontológica da sua postura no mundo; não procurando tanto encontrar motivos para viver como antes continuar a existir na ausência deles. O que constitui em si um problema fundamentalmente ético. Vejamos que nada disto tem que ver com a vontade de morrer ou viver, bem vistas as coisas não é o encontro do argumento lógico que fornece ao homem o sentido de viver, tal como não é a falta do mesmo que o faz decidir-se pela morte. Tendo em conta que estes factores são dispensáveis na orientação da escolha, percebemos que ela se alicerça em predisposições mais simples; é a paixão que orienta a razão, que a concretiza. O homem, ainda que possuindo, à semelhança de outros animais, o instinto de sobrevivência, não é avesso à ideia de martírio… Mas apenas uma emoção vence outra emoção, isto é, a paixão não se deixa vencer pela razão, uma vez que não são interconvertiveis: a paixão não substitui a razão e a razão não substitui a paixão. Das duas, porém, apenas esta tem ordem para carregar no gatilho. Digamos que a natureza coloca à guarda do instinto, fornecendo-lhe uma maioria relativa, o poder de decisão em situações extremas, quando se encontra em causa a integridade física. Enquanto que, para a vivência do quotidiano a emoção é uma substância mais ou menos consistente, mas que ainda assim apresenta uma certa flexibilidade, para que possa, enfim, a razão ter os seus momentos criativos de grande utilidade para a evolução do conhecimento, em circunstancias limite, contudo, como que se petrifica diminuindo a liberdade da razão. Claro que esta aproximação é bastante arcaica, uma vez que admite poderem ser tratadas separadamente a emoção e a razão, quando, de facto, o mais provável é serem elas indissociáveis, numa aproximação mais realista ao centro de comando que é o sistema nervoso, contando também com o contributo de outras funções biológicas.<br />Desta forma, a questão colocada por Camus no início do seu “Mito de Sísifo” acaba por não ser tão fundamental como poderia parecer à primeira vista, na medida em que as únicas respostas que pode obter não têm necessariamente que ver com a consequência que implicariam. Ou por outras palavras, a pergunta é fundamental, a reposta… nem por isso.<br />Tomando, contudo, o caminho posteriormente seguido pelo autor entramos no campo da ética e da fundamentação moral do homem que não encontra motivos para viver ou morrer. E, com efeito, este sim é um problema ético de primeira água. A instauração de uma moral, de uma conduta num percurso desprovido de sinalética, de sentido, enfim, num deserto em que não existe a imposição natural de uma direcção em detrimento de outras, encontrando-se elas, para mais, no mesmo patamar de conquista lógica, apresenta-se como sendo um desafio avassalador.<br /><br /><br />A possibilidade de uma ética amoral<br /><br />São precisos dois pontos para que se possa obter uma linha. Um de partida e outro, distinto, de chegada determinam de onde começamos e onde vamos acabar. O caminho que se cumpre entre os dois, no entanto, pode assumir diferentes formas. Digamos que na vida esses pontos são respectivamente o nascimento e a morte. Para estarmos vivos sabemos que nascemos, estando vivos sabemos que vamos morrer. O percurso entre a vida e a morte, porém, não nos aparece, à partida, definido. Deixando de fora a problemática do livre-arbítrio e da causalidade, assumindo portanto, da visão mais empírica que a escolha do homem é efectiva e livre; resulta a legitimidade da responsabilização do homem. Isto é, o homem pode ser entendido como responsável pelos seus actos, o que não é o mesmo que dizer que exista direito de procurar a consequência dessa responsabilidade através do castigo. A formulação e aplicação de leis punitivas surge apenas das construções estratégicas que não me cabem discutir. Aqui, por outro lado, importa compreender que, mesmo sendo o homem responsável, a respectiva consequência surge normalmente dos seus actos, todas as outras consequências que possam ser adicionadas <em>a posteriori</em> por via de julgamento são artificiais, ou melhor, não são resultado necessário dos actos dos indivíduos. O que origina as conhecidas ambiguidades da justiça. Mas quando se fala de preconceitos morais não se trata de punição, não se deve confundir leis com penitências. As leis pretendem, ou deveriam pretender, apenas proteger um dado modelo ideológico. Acontece que todos os modelos ideológicos vivem somente dentro das pessoas e por vezes parece ser necessário até ir contra o próprio modelo para que as pessoas o não deixem morrer; porque também tem o povo sede de justiça. Aliás, o que é a punição senão uma espécie de lenitivo a essa sede?<br />Mas o que pode fazer o homem no plano ético sem a moral? Falo de uma ética na sua assumpção mais fundamental, livre de teorizações, historificações, mistificações, etc. A ética da verdade interior, da sinceridade. Que caminho pode tomar o homem para se encontrar, assim que renegue todas as leis? Ou será que as renegando por si só é suficiente? Pelos dados disponíveis, sabemos que o caminho não se encontra completo sem a morte (sendo ela ou não o fim), a realidade é que o homem não se conhece plenamente sem a experimentar. Sendo assim que caminho deve ele seguir de forma a que a sua ética sem leis se cumpra? A inexistência de preceitos dita que nada pode estar estipulado <em>a priori</em>, pelo que o homem amoral não pode estar protegido para eventualidades, ou melhor, a sua preparação deve vir apenas de si e não de bulas e salvo-condutos. Pois ele depende apenas de si tal como o seu fim apenas a si pertence. Mas não sejamos radicais nos juízos, o espírito selvagem nada tem que ver, como muitas vezes se pretende, com o anarquismo social. A busca do fim é voltada para dentro e não de companhia, muito menos militância; o que também não implica total isolamento. Pretende-se apenas separar as águas, o que é de procura íntima só pode ser vivido na intimidade, e o que é de relação só pode ser vivido em comunhão. Em que circunstância se pode oferecer a nossa verdade interior como idealismo para as massas , sem entrarmos em desonestidade por negligência, pretendendo que o caminho pessoal seja também colectivo?<br />Pelo contrário, exige a comunhão respeito pelas intimidades dando a mesma preponderância a todos. As quais, de qualquer forma, também não são chamadas a assumir qualquer papel na sociedade, o fim da comunidade é a própria comunidade e não o indivíduo. Ora, se a vida colectiva requer preceitos, costumes, leis… o mesmo não é verdade para a vida individual, a vida que apenas acontece no interior do homem e em mais nenhum lugar.<br />Mas por que motivo – podem perguntar alguns – não pode a intervenção exterior ser também caminho íntimo? A estes, a resposta que proponho é a seguinte: O carácter de um caminho determina-se pela sua essência, pelo material do qual é feito. O homem precisa de ter a humildade de assumir que não se constitui mais que o seu próprio corpo e que o seu íntimo não é mais que a sua consciência.<br /></span></div><span style="font-size:130%;">A ética do indivíduo amoral consiste pois em saber dar primazia ao conhecimento íntimo relativamente à comunhão social. E o conhecimento íntimo não é mais que a sua sinceridade.</span>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-40495643998551106002009-12-21T13:51:00.000-08:002009-12-21T13:52:46.565-08:00Retrato à viagem do sonhador– (com uma voz rouca do cachimbo milenário, que lhe augura a liderança) MARUJOS!<br />– Sim, meu Capitão!<br />– Eu prevejo nos meus ossos que esta é a nossa última viagem, a derradeira aventura que nos levará à fonte do manancial.<br />- O clima está frio Capitão. É difícil de acreditar bom tempo nos dias de vizinhança.<br />– Marujos! Qual é o lema?<br />– Eu Sou! Meu Capitão.<br />– Eu Sou o quê?<br />– Eu Sou o último dos destemidos navegantes nas ondas do perigo, embriagado incurável de tesouros por conquistar. <br />– Nunca se esqueçam disso. - As naus por construir aguardam comandantes, as mulheres na costa raiam o vosso chegar.<br />– O vento vira de Sul, Capitão.<br />– É a providência a nortear as velas. Âncoras a bombordo, temos terra marujos! <br />– Onde? Não vejo nada. – Eu também não. – Meu capitão, ninguém vê terra!?<br />– Acreditem, sinto-lhe o sabor a entranhar-me os poros. Preparem-se marujos, hoje jantamos em terra firme.<br /><br />(horas depois)<br />– Capitão! Ainda não se vê terra!<br />– Não é por não se ver, que ela não está lá.<br />– Sim, meu Capitão.<br /><br />(meses depois)<br />– Caro Capitão, os homens começam a pensar que estamos perdidos.<br />– Só está perdido quem não tem um rumo a seguir.<br />– E qual é o nosso rumo Capitão?<br />– Será que não consegues ver homem? Tudo faz sentido. Andar à deriva é o desígnio a resignar-se à obstinação. Nós estamos onde temos de estar. O dia ainda não acabou.rogériohttp://www.blogger.com/profile/15616411237210416160noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-64743284689417376282009-12-10T03:27:00.000-08:002009-12-10T03:31:53.648-08:00Crónica proléptica de uma época fabulosa<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuufD9OE8e8ju-oiVxMzCj14WcqlFDeLstsmUBkUaBd2rNhSb9K3s40coZG-a0Gx3_0ZNUWSsJSu_1aFqZWxEaWCwPtn4cJC93BPTyqko1n6cjO84GFYfETs3w2ydNOwlpNMZmPlQQ_5Oz/s1600-h/imagem+Cr%C3%B3nica+prol%C3%A9ptica+de+uma+%C3%A9poca+fabulosa.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 320px; FLOAT: left; HEIGHT: 256px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5413568556896815010" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuufD9OE8e8ju-oiVxMzCj14WcqlFDeLstsmUBkUaBd2rNhSb9K3s40coZG-a0Gx3_0ZNUWSsJSu_1aFqZWxEaWCwPtn4cJC93BPTyqko1n6cjO84GFYfETs3w2ydNOwlpNMZmPlQQ_5Oz/s320/imagem+Cr%C3%B3nica+prol%C3%A9ptica+de+uma+%C3%A9poca+fabulosa.jpg" /></a><br /><div align="justify">É um mistério. Quando o árbitro decidiu validar o golo que daria ao Benfica o louro de uma época fabulosa ainda ninguém adivinhava a importância do momento e, no entanto, poucos foram aqueles que não acharam justa a sentença. Quem estaria à espera de que seria somente um ponto a ditar o desfecho do campeonato e mais ainda de que o Benfica precisaria dele para vencer? A verdade, da qual apenas algumas semanas depois se veio a dar conta, precisamente por altura da entrega do troféu, é que desde muito cedo coexistia já nos espíritos uma espécie de consciência colectiva, dessas que comandam silenciosas e obscuramente anónimas, ainda que não se tenha por bom senso admiti-lo, o provir. O que esteve na génese dessa orientação magnética, porém, é de fácil compreensão e pela profundidade e extensão que atingiu encontrava-se desde logo tanto no futebol como fora dele.Em meados do ano de dois mil e nove deu-se o culminar do que muitos tinham vaticinado ou esperavam para a viragem do milénio. O que no futuro ficará registado como sendo o nascimento de uma nova idade das trevas, do qual somos nós testemunhas agnósticas, e que já havia revelado a sua face mais horrenda com o onze de Setembro do ano um, veio então dividir a factura por todos, desabando uma crise financeira internacional e configurando-se uma pandemia de gripe (apelidada) das aves. Como disseram, dizem e dirão muitos de muita coisa, mais tarde ou mais cedo, tudo é inevitável. E, de facto, pensando o infinito é difícil não concordar. Mas, para aqueles que não gostam de esquecer as suas responsabilidades, o caso mostrava-se bem mais particular. A bancarrota mundial como meta do caminho selvagem do capitalismo e a produção e desenvolvimento acelerado de doenças associados à criação massificada de animais para consumo humano não eram propriamente acontecimentos fortuitos ocorridos na nossa era por simples lei das probabilidades. Não eram, e isso estava à vista de todos. Mas, tal como é paradigma das ostras sempre que o indesejável lhe entra em casa, ao invés de se procurar compreender com vista a erradicar a ameaça, optou-se por amordaçá-la e atirá-la para a cave, dizendo que venha a próxima. E outras virão certamente, pelo menos enquanto esses cromossomas fizerem parte do código genético do sistema vigente. Para todos os efeitos eram mais alguns dos sintomas da tão falada crise ecológica e assim foram tratados, com branda ascese e paciente calculismo. É que, já antes dos degelos, das subidas do nível do mar, das secas, dos buracos do ozono, das desflorestações, toda a gente se havia convencido de que este mundo não está sob a guarda de um deus interventivo pelo que, quaisquer que fossem, os futuros dilúvios não teriam como fim novos recomeçares mas, pelo contrário até, apenas avantajados desafios. A fé na salvação continuava por isso relegada para outras realidades, como ao fim e ao cabo esteve toda a vida, sendo neste tempo já exemplos clássicos de subterfúgio os desportos colectivos, os psicotrópicos, as terapias e a televisão, como em outros mais ancestrais foram a literatura, a música e a religião. Desta feita, quando Luís Filipe Vieira, procurando legitimidade inequívoca, se submeteu a escrutínio para os órgãos administrativos do Sport Lisboa e Benfica apresentando Jesus como treinador da equipa principal de futebol naquelas que se cumpriram uma das mais concorridas eleições da história do clube da Luz, o resultado não poderia ser outro que a vitória avassaladora da sua lista, como era afinal mister da febre do tudo ou nada conceder. E havendo quem na altura estivesse aberto a estes ditames teria certamente escutado em qualidade digital os primeiros rumores de um despertar que, para além de usufruir da tensão de um desejo há muito reprimido, era, pela imposição das circunstâncias, mais um daqueles, ainda que circunspecto e mesquinho, efeitos colaterais do grito de esperança que ainda nos chegava, em eco pelas ondas, do outro lado do oceano, vindo do maravilhoso mundo novo de Barack Obama, a quem sobreviria ainda antes do final desse mesmo ano o Nobel da paz. Aquilo que seria uma brilhante pré-época de uma equipa renovada física e animicamente, alicerçada de contratações sonantes e jovens reforços, cravejada de rigor e disciplina táctica, tomaria forma inegável nas goleadas que se cumpriram sucessivas em jogos oficiais, dando então o sonho lugar ao murmúrio e este à lenda, daquele que se viria a cumprir de facto o melhor ataque da Europa. Com efeito, tal como havia prometido, Jesus logrou dobrar o rendimento dos jogadores; o que não é de todo de desprezar. Em primeiro porque estamos a falar de um clube que ainda na época anterior perdia apaticamente contra equipas de quarta e quinta linha como o Trofense e em segundo, mas não de somenos importância, porque se tem como pano de fundo um país que cultiva como um dos seus passatempos preferidos contrapor os líderes com as juras quebradas. Estávamos, em todo o caso, na presença de uma excepção que por ser já há muito esperada, dentro e fora do futebol, se revestia com o manto precioso do milagre, e este aspecto, ainda que dele não se pretenda mais pedestal que o curioso espectáculo do mundo, germinando subterrâneo à profundidade das raízes, encontra sempre caminho de fazer ressoar os nossos cristais. Para além de que toda a gente espera, de uma forma ou de outra, pelo despertar da bela adormecida, pelo regresso do rei, pela chegada do messias. E, se o trono havia sido usurpado pelo rival do norte, é certo que o soberano governante, legítimo pelas glórias do passado e apenas deposto por meio de astúcias manhas, advindo os ventos favoráveis da justiça e da verdade desportiva pelo julgamento do caso apito dourado, saberia receber novamente com dignidade a coroa que afinal tinha sido somente talhada para o seu crânio. O passado de pérfidas injustiças levantadas contra o seu sangue real estava lá, e chegado o sinal da boa estrela guia, faltava pois vencer no coliseu. Dificuldades que se sucederam mas que, não obstante, uma a uma foram caindo, como já antes haviam desmoronado os cepticismos relativos ao apuramento da selecção portuguesa para o mundial das africas, e chegados ao final cada uma delas, desde a mais considerável à mais insignificante, todas, sem excepção, se revelaram não mais que o penhor de uma vitória que se pretendia e assim se cumpriu abençoada pelo sacrifício. De facto, para que alcançassem as águias a sua época fabulosa foram colocados no seu caminho vários obstáculos e, mesmo estando a honra da sua némesis reservada aos arsenalistas de Braga que se revelaram o adversário mais respeitável que um rei pode desejar, a verdade é que outros atiradores furtivos lançaram mira sem no entanto lograr o alvo. Como resposta a um sucesso que, dentro das quatro linhas, parecia inevitável, surgiram, lançadas por todo tipo de rivalidades, suspeitas sobre alegadas influências sobre o concelho disciplinar da liga e a comissão da arbitragem. Mas como já assim havia o caso freeport atentado contra a imagem do primeiro-ministro José Sócrates sem sucesso, também no caso dos encarnados não passou isso de um boato sem outras consequências. O maior ataque porém estava reservado para a segunda volta do campeonato e, vindo abrir polémica sobre o uso de substâncias potenciadoras do rendimento que, embora não encontrando legislação actualizada no futebol, eram já sancionadas em outras modalidades, sendo disso exemplo recente o triste caso da desclassificação do vencedor da volta a Portugal em bicicleta Nuno Ribeiro, acabou por, de certa forma, ensombrar o semblante outrora imaculado do líder isolado do campeonato. Foi o primeiro ferro a cravar o glorioso e pelas contas que Deus fez outros dois se seguiriam. À margem do que era a ausência da justiça divina e o longo percurso da civil, esta última atulhada numa explícita incapacidade para se desembaraçar do seu profundo academismo, cumpria-se ainda assim polida uma ruela de tijolos amarelos sucessivamente entabulada pela imprensa desportiva com os mais espantosas efemérides. Alcançaria o espantalho o seu cérebro, o homem de lata o seu coração, o leonino a coragem e a menina dos sapatos vermelhos libertar a terra de Oz da terrível feiticeira? Se mais de cinco anos se esperou para que tivesse fim e escassas consequências o famigerado processo casa pia, verdadeira via dolorosa da justiça portuguesa, do qual apenas esta saiu mal vista e, ainda em desenvolvimento se encontrava a exploração do universo subterrâneo dos favorecimentos, pela mão de uma diligência judicial interposta a uma face oculta que ainda para mais beneficiava de uma morfologia tentacular, na liga sagres porém, faltando apenas algumas semanas para o encerramento da época, já ninguém esperava outro vencedor que não o Sport Lisboa e Benfica; nascendo tal vitória de uma justiça tão cega que acontecia celebração de uma fé inabalável. É claro que ainda não seria desta que os árbitros seriam poupados, longe ainda andarão os tempos de semelhante alforria, estando aliás a perseguição encetada contra o carácter destes juízes até na origem do segundo ferro cravado nas asas da águia. Com efeito, a constante suspeição de favorecimento no arbítrio das partidas, quando virtual, apenas pode prejudicar o líder na medida em que adverte para que, em caso de dúvida, nunca se favoreça a equipa que se encontra em vantagem. O que, no entanto, ainda veio revestir de maior particularidade a decisão tomada pelo árbitro naquele fatídico minuto oitenta. A coragem que o iluminou talvez nunca a venhamos a perceber, mas julgo que não estaremos muito afastados da verdade ao supor que assim o decidiu por acreditar que seria a melhor opção, melhor não no sentido de ser aquela que se encontrava mais de acordo com a verdade do acontecimento específico que avaliava, mas melhor no contexto de todas as circunstâncias envolvidas para além daquela em concreto, diríamos nós, quase como se adivinhasse que aquele golo, o ponto que valia, seria decisivo no desfecho de toda a época e logo assim no juízo final de uma equipa que, com todos as suas virtudes e defeitos, havia lutado com os recursos possíveis contra as dificuldades avassaladoras do imprevisto e não sendo um exemplo de integridade, mas também não uma cobardia de artimanhas, acontecia, para todos efeitos, aquela presença que desenganada de Deus e da ética absoluta não se furta à condição humana porque sabe, sente, que um dia, em uma qualquer situação, ainda terá a oportunidade de encarnar, mesmo que por breves instantes, a face do bem. O registo de vídeo, discutido durante a semana seguinte por todos os quadrantes da sociedade portuguesa, apenas viria novamente à memória no final da época, mas desta feita somente enquanto uma nostalgia irónica que trouxe em si o travo, ora doce, ora amargo da concretização. Já se havia deixado escapar os Maccain uma vez. </div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-63315420535606402692009-07-25T11:20:00.000-07:002009-07-25T11:57:06.724-07:00sobre a verdade e o ego take 2 de 3<div style="text-align: justify;">definições: <span style="font-weight: bold;">transparências al ego</span>
<br />
<br />sim porque, quando o ponto de partida é errado, a solução, por mais correcta que pareça, é indubitavelmente uma catarse esculápia.
<br />
<br />Tu és a típica ovelha num rebanho de um. Sim, sim ouviste bem. Nunca te vejo a assumir um acto rebelde, nunca te vejo a navegar a deriva de ondas indomáveis, nunca te vejo a dizer “Eu”. É só “nós o rebanho” pra’qui “nós o rebanho” pra’li. O significado subordinado à vida do indivíduo, é só na medida em que se extasia do valor supremo, da capacidade em tornar uma mais valia o acto de existir.
<br />
<br /><span style="font-weight: bold;">Ego </span>
<br />
<br />Ego é diferente do Eu, sem se dissociar do ser que é. Isto, em caracteres suaves, vislumbra as fronteiras da Consciência.
<br />Ser a soma total dos pensamentos, ideias, sentimentos, lembranças e percepções sensoriais, é tudo muito bonito, mas isto são definições de algibeira, para uma vez por outra, o eterno inculto saciar a sede.
<br />
<br />O ego, por estranho que possa parecer, é a parte mais superficial do indivíduo, uma vez que obedece ao princípio da realidade. Representações mentais complexas de ideias abstractas como: ‘Centauro’ estão implícitas, e é um desperdício temporal estar a divagar sobre elas. Assim o conceito, a coisa, a ideia, traz subentendida, pela dependência de actividade mental, a presença de intencionalidade, e não a projecção da percepção inata.
<br />Aquele famoso<span style="font-style: italic;"> id</span>, regido pelo inconsciente, e aquele malogrado <span style="font-style: italic;">superego</span>, subjugado à moral, são tudo cisões absurdas do ponto a que se quer chegar. Por outro lado a tomada de consciência procedida dos impulsos que emanam do indivíduo, facultam a esta definição a exigência para a qual é direccionada: ‘o complexo do ego’. A percepção e a noção de existência, a eliminação da subjectividade para o acolhimento da certeza cienciente.
<br />
<br />‘Subjectividade’ este deve ser o sinónimo que o comum mortal mais dá ao ego. Ser consciente não é exactamente a mesma coisa que perceber-se no mundo, mas ser no mundo, a etimologia do eu ao eu, na faculdade de primeiro momento.
<br />A amplitude consciente do Ego não pode ser uma alteração induzida do estado da consciência, mas antes incorporar o acto inato do presente, irreflectido.
<br />
<br />Tudo isto é demasiado complexo no limiar do confuso? Claro que é. E é por isso que te vou fazer um desenho:
<br />
<br /><span style="font-weight: bold;">(∑ inato do indivíduo * pelo<span style="font-size:100%;"> </span></span><meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CROG%C3%89RIO%5CDEFINI%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--><span style="font-size:100%;"><sup><span style=";font-family:";" >2</span></sup></span><span style=";font-family:";font-size:100%;" > </span><span style="font-weight: bold;"> da √x) - Subjectividade = 1 (ser único)</span>
<br />
<br /><span style="font-weight: bold;">Sendo que x, é ‘α’ e ‘Ω’.</span>
<br />
<br />A tua pergunta agora vai ser óbvia: “Então a subjectividade não é inerente ao ego?” Já respondi a isso, lê outra vez e não me faças perder tempo com perguntas obtusas.
<br />
<br />Agora, o take 3, virá quando a providência assim me orientar.
<br />
<br /><span style="color: rgb(102, 102, 102);">e acabo com o ‘ego’centrismo do costume, que destrói tudo quanto ergui: escrito pel’a entidade divina rogeriana, no ócio do vigésimo sexto ano.</span>
<br /></div>rogériohttp://www.blogger.com/profile/15616411237210416160noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-28547878129035379702009-06-20T11:14:00.000-07:002009-06-20T12:08:16.045-07:00egocracia.narcisistó’imodesta<div style="text-align: justify;"><br />Meu caro senhor Nuno que é Moreira e Araújo é tempo de elevar uma vez mais os parâmetros pelos quais este blog se rege, pois está aqui a faltar um trago de identidade poéticó.metafisicó.transcendente a.k.a ao largo do rebanho que flúi nas correntes da comundidade.<br /><br />Cá ficam as bases para uma dissertação sobre os valores morais e patrióticos na instauração de um ideal governativo, longe dos pré-existentes e entranhados como o melhor a que se pode aspirar.<br />Não é uma egocracia.narcisistó’imodesta mas sim um estado puro de harmonia existencial do Eu com o Todo e do Todo com o Elemento Único.<br /><br />. <span style="font-weight: bold;">justiça</span> (lei, moral, jurisdição,<br />. <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">kracia</span> (governo, regência, directriz,<br />. <span style="font-weight: bold;">livre-alvedrio</span> (a essência que é o ponto, escolha, causalidade, desígnio,<br />. <span style="font-weight: bold;">inocência e humildade</span> (inocuidade, abnegação, altruísmo,<br />. <span style="font-weight: bold;">propósito</span> (objectivo, potencialidade,<br /><br /><br />Com o intuito de manter a leveza pela qual este blog se orienta, isto é um resumo. A dissertação completa pode ser sorvida aqui: <a href="http://egocracianarcisistoimodesta.blogspot.com/"><span style="color: rgb(255, 153, 0);">>>></span></a><br /><br /></div>rogériohttp://www.blogger.com/profile/15616411237210416160noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-70844645801221520122009-06-07T06:21:00.000-07:002009-06-17T16:09:35.802-07:00<span style="font-size:130%;"><br /><br /></span><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: center;"><span style="font-size:130%;"><span style="font-family:georgia;">I</span></span><br /></div><br /><span style="font-size:130%;"><span style="font-family:georgia;">E assim sendo poderemos acreditar, apenas. Esperar no gesto como ponte sobre o vazio. Achar condição do lado de dentro do tempo. Prumo na gravidade que nos corta o corpo onde ele sente ausência. Não porque não tem, mas porque falta e faltando existe presença que se cala em comunhão. Olho o teu cabelo e há uma treva doce que descai para a luz. Uma leveza que mexe uma folha de plátano em mim. O que é macio expande-se pelo infinito. O que é sombra repousa etéreo. A folha cai. Poderemos apenas acreditar. Mas é preciso acreditar com as mãos, com a pele, com a boca, com a ferida do olhar. Agora. E esperar que em comoção dos dedos o espaço que nos separa seja suficiente para que o toque se complete. Há tempo entre nós e haverão pedras, se a tanto a fortuna nos levar lágrimas achando lugares de oração e nesse canto cânticos inventando o percurso mais longo para o nosso afastamento. Na praia, as nossas ondas encontrar-se-ão eternamente deitadas.</span></span><br /><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:130%;"><span style="font-family:georgia;">II</span></span><br /></div><br /><span style="font-size:130%;"><span style="font-family:georgia;">Estou sem tempo para te fazer chegar. É com outra saudade o vento, a forma de como as copas dos ciprestes falam com a natureza moribunda. E como é certo que todos procuramos o vazio, como os pássaros debicam o repente e depois perscrutam com o olhar de lado a impassibilidade do azul. De que nos falarão os resquícios, os gorjeios em que se misturam o vazio da nossa respiração e a saliva licorosa das teias que nos nascem dos dentes? Somos uma boca aberta às estações, uma gruta cavernosa de amparo e armadilha. E tudo é o mesmo uno em que se encontra o indestinto a doer no nosso interior as distinções que fazemos. Mais não pense eu ser dono do cavalo que me veio correr a dor.</span></span><br /><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:130%;"><span style="font-family:georgia;">III</span></span><br /></div><br /><span style="font-size:130%;"><span style="font-family:georgia;">Nem uma palavra. Nada. E no entanto antes da manhã um silêncio de recomeço. Saberemos nós que a esperança é uma verdade esquecida no nosso corpo - esquecida - derramada no nosso corpo - esquecida? Há um conceito de onda electromagnética que a todos nos une, uma linguagem humana que nos faz partilhar das gravidades, dos instantes reflexos na nossa mudez mordida nos lábios e destrinçada após largos rasgos de cumplicidade. E este invariavelmente só, de uma dádiva gratuita de não pudermos agradecer a ninguém com quanto antes ter uma noite, estender no abraço do vazio os braços talvez descaídos e sentir que algo nos agradece também. Sempre que os órgãos do magistério público são céleres a responder e ficamos nós com a resposta tão premente de humanidade.</span></span><br /><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:130%;"><span style="font-family:georgia;">IV</span></span><br /></div><br /><span style="font-size:130%;"><span style="font-family:georgia;">Será então o despertar adiado para o juízo final a única resposta que alguma vez iremos receber do universo. A única fala das coisas é a brisa descobrindo os lençóis do tempo que deixamos cair. Parece-me por isso que caminhas sobre as poeiras, ainda que o teu olhar seja o fundamento dos oceanos. Como poderá cair uma âncora do teu ser e orientar a corrente das lágrimas para as águas calmas de esquife? Quando nós somos apenas dois animais e não existe ninho para o nosso calor de mamíferos criando monumentos ao sol, bandeiras patibulares de sede e suor. É certo que a areia afoga as nossas lágrimas, a areia as nossas lágrimas. Mas quando ficaremos enxutos?</span></span><br /><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:130%;"><span style="font-family:georgia;">V</span></span><br /></div><br /><span style="font-size:130%;"><span style="font-family:georgia;">Ao passo que a não concretização do milagre revele ser afinal a essência da nossa possibilidade. Eu espero que tu venhas, diáspora entre o teu olhar e a minha mão a sentir. Nesta canção que inventei em silêncio do canto porventura, ora de repente em esperança pelo tempo que nos afasta para o interior do silêncio nocturno. Poder-se-á dizer que eu existo em vertigem deste abismo mas talvez a gravidade seja uma queda de necessária desilusão ao fundo de mim. Chegar e não ver ninguém, descobrir-me o ninguém, a alma que me responde quando falo comigo fragmentada em milhões de pedaços espelhados pelo universo, que não me pertencem, que não me obedecem. Pedaços universo.</span></span><br /><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:130%;"><span style="font-family:georgia;">VI</span></span><br /></div><span style="font-size:130%;"><br /><span style="font-family:georgia;">Os objectos repousando a espera do nosso toque. Aos cantos mais infinitos da impossibilidade do nosso toque, retendo a sombra e também talvez os tesouros mais profundos. Quem sob o hálito espreita e sobre o muro do pensamento, roçando o musgo húmido do abandono caindo para lá. Cresto pedaço de um tecido soblingual caindo-nos em véu de poeira. Há silêncio entendido, porém antes que o tempo não possa desatar mais o nó da espera. Sabes o vento nos milhais e depois um sopro vazio, o nascimento do vácuo no nosso coração. Pouco pedra pomes. Sabes já de poente a cancela que se abre. Poderia ser que outro pássaro se perdesse. </span><br /></span><br /></div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-89298015374837501692009-05-19T20:58:00.000-07:002010-05-10T05:07:14.582-07:00despertar acidulado<span style="font-size:130%;">(Abri o messenger às 04:57 e vi que não estava ninguém online)<br /><br /></span><span style="font-size:130%;"><br /></span><div style="TEXT-ALIGN: justify"><span style="font-size:130%;">óoO indeléveis tragos de mortandade a quem a face terrível da morte ainda não concedeu a vertigem do infinito, agora que acontece o chilreante sussurrar dos mais submersos segredos cosmológicos dormis! Acaso foi profícua a ceia e suficiente o arrebalde para que vos aninheis à clausura dos sonhos? Quem são as mulheres-calipso que se prestam ao vosso lado afogando-vos nos mais tenebrosos cabelos? Serão elas prémio suficiente para que vos abandoneis aos vossos obscenos desejos ao invés de prescutardes as delas preversas razões? Eu conheci uma e digo-vos que por ela daria a minha vida caso ela ma devolvesse. Sim, asseguro-vos que o mais fiel segredo do amante é dispensar a sua vida em patranhas alheias. Deixai pois o vosso corpo nessas mãos para que mais tarde não tenhas pejo em perde-lo, mas não adormeceis o espírito, não vos deixeis tranformar em porcos, prisão de todos os espiritos malditos. Reparai que Diana já saiu para caçar e que as suas driades se demoram nas mais venenosas correrias. É por estes momentos que se dão os planos e que se tecem todas as teias humanas. Não vos deixeis enganar pelo clarim da aurora, ele mais não é do que a trompeta que dá início aos jogos, e ah! como vós sois as gazelas, como vós sois as lebres, as raposas, os veados, o sangue quente de prazer dos repteis divinos. Com os vossos pequenos corações aflitos a bateram dentro de um tambor de esperanças e medos. Eles fecham as mãos e as vossas pulsações desapareçem amordaçadas pela frieza do aço. De nada vos servirão os esconderijos, são ilusórias as salvações. Colocai-vos, pois, ao carrasquio célere das adagas ou acordai antes da hora predita para que se impressione Apolo e vos tranforme em singular estrela ou singela constelação. Acordai antes do despertar e conquistai o infinito que, vosso por direito, por vosso dever vos aguarda. A todos os ventos solares, a todos os oceanos subterraneos: Se alguém me houve, se alguem me escuta, ainda... </span></div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-89514097385223111322009-03-21T11:51:00.000-07:002009-03-21T11:55:23.400-07:00O retrato escondido <meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CROG%C3%89RIO%5CDEFINI%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:11;">Porque hoje é o teu dia eu acedo finalmente ao pedido e volto a escrever. É um presente de palavras desembrulhadas com a leitura que fazes delas :)</span>
<br />
<br /><span style="font-size:11;"><span style="font-weight: bold;">O retrato escondido</span> - Escrito por ..-.. Catarina val Mathias..-..</span>
<br />
<br /><span style="font-size:11;">Na aurora do vigésimo sexto ano, do auto-denominado fruto do desígnio, venho em auxílio do seu carácter, para que a mancha toldada pelas palavras que me precedem acolham um raio de luz.</span>
<br />
<br /><span style="font-size:11;">Poucos são os dias que tenho o prazer de poder manter a presença no espaço que ele investe de singular fascínio. Mas ao contrário do Nuno-Barão-Ferreiro de carícias afectuosas duvidosas, eu vislumbro antes uma aura de luar composta por Dvorák e com pinceladas dos últimos dias do querido Ludwig.</span>
<br />
<br /><span style="font-size:11;">Os intuitos das analogias de tempos findos, são na procura mentalíssima do justificar uma existência, investida de momentos livres de estigmas sociais. Não é tão altivo nem tão selvagem ou pretensioso. Olhando-o com um pouco mais de atenção, ver-se-á, a ternura de um olhar que desviará logo que reconhecido, uma meiguice de alento se não estiver mais ninguém a observar a candura de que é capaz.</span>
<br />
<br /><span style="font-size:11;">Toda a máscara lhe descai quando apaixonado. Não mais se amantiza a esses carbonários liberais, mantendo o negro faro alerta no meio do branquiçal diocesano, castrando sempre que necessário, as investidas pueris de velhos burgões moldes de um passado lógico num presente antiquado obtuso entorpecido da libertação da mente. E esse Dom que julgava ser rei é-lhe conferido a totalidade dos bens e confirmado ninharias para suplantar a derrota. Que se mantenha no exílio ou que venha servir as esquecidas hostes sulistas que lá ficaram a marinar o tédio de um ar veranil.</span>
<br />
<br /><span style="font-size:11;">Não lhe vejo esse ar selectivo nas relações de carisma mais íntimo, se bem que se denota uma queda para o ar rebelde, para as deusas a meio caminho do ciúme desconfiadas arrebatadas e irracionais. Que imanam impaciência e uma sedutora mente, meio animal selvagem, meio expulsa do paraíso. Que transmitem em verbos expressões que poemas não conseguem definir através de palavras ou saltos de fé na plenitude do prazer-físico.</span>
<br />
<br /><span style="font-size:11;">Não o vejo tão longe a conseguir os objectivos a que se prometeu. Mas compreendo a necessidade de o deixar ser livre. A mim ter-me-á até ao fim da lira poética, como sentimento, não obrigação ou entrave a todos os sonhos e anseios, que vai escrevendo e me deixa ler em pequenas doses, reservando sempre os seus segredos, numa característica sedutora e deliciosamente irritante.</span>
<br /></div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:11;"><o:p></o:p></span></p> Catarinahttp://www.blogger.com/profile/05033866736675473204noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-42772977155161054172009-03-21T04:54:00.000-07:002009-04-01T07:45:05.070-07:00We will meet in heaven<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfAXGC-E1fXDfIqqYTPWXtfduyAJwl5XxnYqbAHhEsvooJ4zYrklSCP_xrLrDy2Iz39r8alIgSoqzbN8l0AS-HzRshFgYiFOmPs_5p0ugatqJUpCNX-IVhHqISIQ9FF0qgxplt9Myp_cSd/s1600-h/Img004.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 246px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfAXGC-E1fXDfIqqYTPWXtfduyAJwl5XxnYqbAHhEsvooJ4zYrklSCP_xrLrDy2Iz39r8alIgSoqzbN8l0AS-HzRshFgYiFOmPs_5p0ugatqJUpCNX-IVhHqISIQ9FF0qgxplt9Myp_cSd/s320/Img004.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5315630774671494162" border="0" /></a><br /><div style="text-align: justify;">O perfil do herói (descrição acicatada pela música de Richard Wagner)<br /><br />Trata-se de se ser, durante o máximo de tempo permitido e perante o maior universo de espectadores imaginável, o paradigma usado por Hugh Laurie para interpretar o House M.D. do fox channel. Tudo o resto deve ser mantido no mais casto dos segredos. Entretanto é admitido, mas sem dar muito nas vistas, passar num bar e marchar o maior número de loiras possível (com ou sem álcool, tanto faz).<br /><br />Imagine-se então que estamos no teatro alla Scala in Milano e que o seu encenador é Shakespeare. É óbvio que as roupas de época são demasiado amaneiras para o nosso herói, pelo que ele aparecerá de jeans replay e t-shirt cutty sark, o mestre pede-lhe que faça uma vénia à dama, actriz principal, mas ele apenas simula uma queda e volta novamente ao camarim. Só aparece nas cenas de solilóquio e duelo mortal, para todas as outras manda um duplo medíocre. Virá as costas ao público quando pressente as palmas e insulta os criados o mais sarcasticamente que sabe. O seu sorriso é a ironia e o seu olhar o tédio orgulhoso.<br /><br />Fora de cena não se encontra nunca, nem na intimidade. Os seus espelhos vivem horrorizados e tudo o que é donzela também, enxota-as com uma bengala vergastante. Diz que manca muito, mas trata-se apenas de uma tendência patológica para a queda no abismo. Se lhe perguntarem quem é o maior filosofo de todos os tempos, responde simplesmente que isso não é novidade nenhuma. Não bebe café, diz que não consome opiácios, mas anda sempre de moleskine. Todos os príncipes e reis são seus bastardos. Não suporta baronesas, principalmente as soltas. Pintaria a Vénus de Botticelli com um cabelo mais curto. Mas as rebeldes fazem mais o seu género, precisamente aquelas em que a ousadia compensa largamente a falta de inteligência. É incapaz de conceder golpes de misericórdia, para mais tratando-se de uma pessoa saudável. Envolve-se em fumigações de rebelião sempre que pode, mas foge de coisas sérias como a política e a pesca do bacalhau. Faria parte da carbonária se soubesse o que isso é. Em todo o caso esconde o facto de ser absolutista e um apoiante incondicional de Dom Miguel. Será, certamente um dos seus generais assim que ele voltar do Exílio. Morte aos liberais! - é sua a declaração mais sentida.<br /><br />Faz hoje 26 anos e aproxima-se vertiginosamente de uma vida fulgurante de mais para a mesquinhez do nosso alcance. Anda sempre por aí o cometa, só o verão, contudo, daqui a cem anos. <br /></div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-85890486355367229022008-12-29T14:51:00.000-08:002011-01-24T03:47:07.128-08:00A submissão à indolência ou o balido comiserado da ovelha ranhosa<p class="MsoNormal" style="TEXT-ALIGN: left"></p><p class="MsoNormal" style="TEXT-ALIGN: left"><span style="color:#ffffff;">.</span></p><p class="MsoNormal" style="TEXT-ALIGN: left">(Baralhar)<br /><br />O que é que acontece quando se junta na mesma panela descoco, cloaca, bicho, galhofar-me, picareta, bigorna, sanável, MARICAS, clarividência, vampiros, afago, ego, trela, refrão, gafanhoto, findo, lobo?<br /><br />- Uma diarreia mentalissima de escroto nasal e canja de galinha, atestado carimbado de inorgica disfunção psexdo-intelectual.<br /><br /><br />(Partir)<br /><br />O que faz, nestas circunstancias, um cavalheiro da mais nobre estirpe ascendência David <span style="FONT-STYLE: italic">Rex Iudaeorum</span>? Não sendo ele urologicarrascopsicachulista, nem para tal havendo sido investido pelo papa sumo pontífice dos eunucos?<br /><br />- Uma rodilha de César pois, para que não pare de cantar o ceguinho, e bater no zézinho, bater no zézinho.<br /><br /><br />(Distribuir)<br /><br />A cada famigerado nobre a sua parte destinada, alguns ficam a chuchar no dedo, pois claro, outros na abundância bordada a ouro.<br /><br />Dos dois intervenientes do dialogo: um distinto, mas obscuro, senhor de cinzento com tendência para o escândalo sexual, outro de marinho azul ridículo, homem de alguma envergadura baixa, com disposição visceral para se dobrar sobre o peito servil; Nenhum engana, porém, no trato e educação, o primeiro é príncipe selvagem criado pelos corvos, o outro barão impotente paparicado pelas tias raquíticas da serra do Marão. E enquanto o cinzento diz euéquesousuabestainergumena o outro diz tuéqueéseeuesouumabestainergumena.<br /><br /><br />(Pré-flop)<br /><br />O cinzento fala e o de azul lambe atrás. Sim e bem. Tal como recomendou Jesus Cristo, para que não falasse de mais o homem despreparado para fazer o silêncio que é a única verdade. Mas o corvo, no seu inelutável <i>ressentiment </i>de origem endógena, atira-se-lhe de bico negro<i>,</i> viscando impropérios de algibeira, artifícios para assustar as criancinhas.<br /><br /><br />(Flop)<br /><br />O mago azul denúncia a sua posição miserável de vagabundocelibatarioermitão (o que o expõe ainda mais ao ridículo) e limpa a boca à manga bolorenta do traje. O mestre de cinzento usando da astúcia emprega a estratégia do cavalo de rabo escondido (a mesma que já havia surtido bom efeito com Abel e Dalila, seres semelhantes na franquezasensual) e cerra o olhar, ao mesmo tempo que tira uma carta forjadamente afiada da bota direita.<br /><br /><br />(Turn)<br /><br />Ambos jogam os trunfos que têm contra mim, enquanto me tentam convencer com doces palavras e promessas vãs: - Vem por aqui. Eu pouso o copo do mais exótico veneno que me serviram e, de relance, lembro a Vénus, difusa, distante pela pincelada leve do cianeto; julgo que me olha de soslaio. Num vislumbre interrompo a cigarrilha, e procuro ainda mais um pouco de lucidez, um pouco mais de tempo para ver se me encontro nos seus olhos. Nas minhas costas uma traição penetra-me as vísceras carcomidas e o sangue todo que me resta, num jacto para o cérebro, dilata-me as pupilas e deixa entrar um pouco mais de luz branca. E tudo se confunde com a sua pele, os seus cabelos chegam-me raiados ao rosto, o seu vestido cobre-me como um lençol imenso.<br /><br /><br />(River)<br /><br />Ao meu ouvido esquerdo um sussurro ignóbil corre mais rápido que a morte: - Ela nunca será tua. E, mais uma vez, no meu interior, a lâmina de dois gumes focinha como um javali raivoso. Estendo a mão ao veneno, mas a taça está vazia. Vénus aproxima-se pela cintura rasante de searas douradas, traz pela mão uma filha. Viro as cartas e vejo que não é minha. </p>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-30388378369264410802008-12-26T09:49:00.000-08:002008-12-26T14:38:58.747-08:00a submissão à indolência<div style="text-align: justify; font-weight: bold;font-family:times new roman;"><span style="font-size:130%;"><br />AAAAAAAAAHHHHHHHH - que este descoco (audácia, desplante, descaro) tira-me do sério.<br /><br />- Então, como anda a vida?<br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Bem.</span><br />- Tens planos, já sabes o que vais fazer?<br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Sim.</span><br />- “Bem” “Sim” - Deixo-te junto das ovelhas algum tempo e de imediato o teu vocabulário sofre a submissão à indolência. Tu és maior do que isto.<br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Eis que escrevo sobre o aceder ao artista que existe no interior de cada um de nós.</span><br />- AAAAAAAAAHHHHHHHH, que essas frasezinhas tiradas da cloaca do cordeiro, deixam-me fora de mim.<br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Faz parte das nossas vidas, do nosso colectivo, enquanto seres sociais, assumir as responsabilidades, que envolvem as nossas relações quotidianas.</span><br />- Foodaaaaassse! Eu também contraí o bicho da responsabilidade, mas equilibro esse evacuado, não deixo a pressão diária do ritualizado laborar, interferir com os rituais da latente libertação do ego-animal auuuuu! auauau auuuuuuuuu!<br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Consigo sentir que o teu íntimo artífice se sente oprimido, tens de passar a operar de acordo com o teu preconsciente que anseia libertar-se.</span><br />- Chhiiiiiiiii, cum camandro, se isso dá no touro, despacha as leiteiras todas. Venderes-te não é realmente o teu forte, pois não?<br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Eu não me estou a entregar, eu estou a ceder o meu trabalho.</span><br />- Huumm continua a tentar convencer-te do que melhor te faça dormir à noite.<br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Ironizas este momento, e evitas ter uma conversa a sério. Eu sei que gostas de palavras, mas estás a ter um raciocínio ilógico ou a galhofar-me propositadamente.</span><br />- O quê, não posso fazer as duas coisas? Ao menos reparaste nisso. Outro qualquer nem se aperceberia que passei por ele de picareta e bigorna na mão. O teu desvio ainda é sanável.<br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Eu sei que tu resides num universo moralista completamente distanciado das potencialidades de nós, seres tão reais.</span><br />- Qual é a palavra para esse discurso mesmo? MARICAS!<br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Sim obrigado. Desculpa, nunca foi minha intenção investir-te de sentimentos que não conseguisses dominar.</span><br /><br />- Eu não estou surpreso por tu teres escrito algo com venda. Porque se olhares para as prateleiras, observas memórias do passado, entidades que são, ao passar dos teus dedos pelas páginas investidas de tempo. E esse espectro sente-se muito distinto nesses instantes.<br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Exacto. Ficaram com o nome na história, quanto mais se pode querer?</span><br />- Espera deixa-me acabar, que no final isto dá uma volta de clarividência. - O caminho para a grandeza da publicação está cheio de boas intenções, e é bom enquanto dura. Fruto de teres acreditado em ti próprio e afins. E eu até aceito, na medida em que não sejas devorado por psíquicos vampíricos, consumidores de mentes. Expostos juntos de todos os outros livrinhos medianos que só tem existência durante um ano ou até à cárcere última do compositor da melodia. - Não te deixo aqui com exemplos de obras a abarcar, não te forneço o mapa do trilho a seguir, não exponho que algo que nunca foi feito é que irá ser o que me vai apaziguar a fome. Porque de verdade só existe uma a saciar.. e enquanto não te aperceberes disso, vais continuar a fazer todo o sentido em discursos de afago com o ego. - Poderias aprender o que precisas, mas se vais à procura de alimentar a resolução onde cravaste o paladar, ficarás eternamente circunscrito ao limite da trela que no esticão último, castra a ilimitação do ego. - Claro que se estás na busca de facilidades acabas por as encontrar, e achas que é finalmente o rumo a tomar.<br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Este livro demonstra exactamente como me sinto.</span><br />- E isso é o quê? Alienado, nauseado, verdadeiramente despossuído?<br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Ó pá, não me chateies.</span><br />- Eu tenho de chatear, eu sou um homem numa missão. Em que tom de preto é que eu tenho de te explicar isto?<br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Isto é tudo uma merda!</span><br />- Grandes mentes pensam igual. O denominador comum nisto é que podes rir ou chorar ou os dois, porque não existem humores que sejam demais.<br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- Façamos o que fizermos, não passaremos nunca de um mais tijolo na parede.</span><br />- E o refrão é o verso.<br /><span style="color: rgb(0, 0, 102);">- O que é que isso quer dizer?</span><br />- Descobre, meu caro gafanhoto, e o meu trabalho será considerado findo. Eu só quero ver chegar o dia em que possa dizer: - “Encontrei alguém com capacidade no lobo frontal. Estou apaixonado.”<br /><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;font-family:times new roman;font-size:130%;" ><br /></span><span style="font-weight: bold; font-style: italic;font-family:arial;font-size:85%;" >por rogério m. f. a.k.a. ego est quis ego sum em dias de dezembro do vigésimo quinto ano.</span></span></div>rogériohttp://www.blogger.com/profile/15616411237210416160noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-3487105538334953442008-10-04T08:18:00.000-07:002008-10-04T08:37:45.394-07:00"Será possivel ser eticamente imparcial?"<div align="justify"><span style="font-size:130%;color:#333333;">Resposta simplificada a uma pergunta directa<br /><br /><br />Introdução<br /><br />Em exercício de clarificação mental, transformo “Será possível ser eticamente imparcial?” em: Será possível, em termos éticos, ser imparcial? E, a resposta que dou a esta pergunta é Sim. No entanto, no sentido de preparar a sua demonstração argumentativa, devo, entretanto, deixar explícitas as minhas interpretações de ética e imparcialidade. A ética surgirá como ciência que estuda os fundamentos da moral, isto é, as bases dos costumes/acções morais. A imparcialidade como atributo da acção que acontece independente, ou seja, sem influências estranhas ao seu objectivo.Se tivermos em atenção a definição de ética apresentada, e que a imparcialidade é um atributo moral da acção, a pergunta em causa poderá apresentar ainda outra forma: Será possível ser fundamentalmente imparcial? Sendo esta última versão que analisarei, por me parecer ser aquela que mais perto do essencial se encontra.<br /><br /><br />Desenvolvimento<br /><br />Neste ponto devo derivar a abordagem da questão pelas duas perspectivas que me surgem. A primeira é ser fundamentadamente imparcial por escrupuloso seguimento de uma lei/princípio moral e, desta forma, ser imparcial por fundamentos de uma lei humana. A segunda é ser imparcial tendo como fundamento as leis da natureza.<br /><br />Começando pela segunda perspectiva, e ignorando até que ponto se podem considerar morais as leis da natureza, posso dizer que, neste caso, a imparcialidade é um conceito absurdo. Isto porque, considerando que a natureza possuiu leis, o homem não pode fazer outra coisa que não seja segui-las, e ao respeita-las não se coloca sequer a possibilidade de ser imparcial ou parcial, pelo simples facto de não existir escolha; por exemplo: obedecer parcialmente, ou imparcialmente, à lei da gravidade.Apesar de parecer objectivo que as leis da natureza, a existirem, não são morais ou imorais, pelo facto de abstraírem, nesse aspecto, o livre arbítrio ao homem, não podemos esquecer, contudo, que o homem, e por conseguinte tudo o que dele resulta, faz parte da natureza.<br /><br />Para responder à pergunta pela primeira perspectiva é suficiente elaborar um exemplo, em que a acção, para a qual se pretende avaliar a imparcialidade, deve seguir uma lei moral imperactiva e clara, como por exemplo: Em todas as bifurcações que te surgirem, segue pelo caminho da tua direita. É claro que nem todas as leis morais permitem esta imparcialidade. Em todo o caso, para que uma lei permita apenas este tipo de acção é necessário que seja precisa, isto é, que não deixe espaço à interpretação. Neste sentido podemos verificar que na vida quotidiana, e até mesmo nos tribunais, está perfeitamente de acordo com a realidade ser-se parcial, sempre que a(s) lei(s) assim o permita(m). E de qualquer forma também seria inconcebivel cobrir todo o espectro da acção humana com limites definidos.<br /><br /><br />Conclusão<br /><br />Em síntese é possivel dizer que a imparcialidade só é possivel quando a escolha é feita antes do surgimento da situação exacta que a pede.Considerando, no entanto, não válida a fundamentação desta imparcialidade, será lógico atingir, em deterimento das humanas, as bases da natureza, em que não existe escolha e por conseguinte imparcialidade.</span></div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-53087970730901104942008-10-03T12:23:00.000-07:002008-10-06T03:02:08.686-07:00Sobre a verdade e o ego<div align="justify"><span style="font-size:130%;">“Existem muitas opiniões, mas apenas uma verdade. Eu posso ter pensado momentaneamente sobre o quão difícil é para livrar-se do próprio ego, e que a existência sem individualidade de consciência seria sem sentido, mas…”<br /><br />Nota 1: O fragmento textual acima apresentado é da inteira responsabilidade do meu amigo Rogério, o apascentador de catorzinhas, e surge aqui, por mim transcrito, para que fique clara a fonte temática da discussão critica que em dias de Outono de 2008 empreendi, e cujo resultado abaixo dou a conhecer.<br /><br />Nota 2: Em minha defesa tenho a alegar que fui coercivamente induzido, sob ameaça de violência física, a ser breve nas minhas considerações.<br /><br />Nota 3: Atribui-se ao fragmento o numero 3, e a cada uma das suas frases os numero 1 e 2, pela respectiva ordem. A dissertação encontra-se ordenada por letras e por letras seguidas de números. A cada letra corresponde uma acção, e a cada letra seguida de número a(s) consequência(s) da acção respectiva sobre a(s) frase(s) representada(s) pelo número.<br /><br /><br />A. Interpretar<br /><br />A1. Contraposição de existência do absolutismo para além do relativismo.<br /><br />A2. Algo se contrapõe à dificuldade da libertação egoística do ser e à sua existência sem individualidade de consciência.<br /><br />A3. Ao libertar-se do seu próprio ego, o ser adquire a visão da verdade.<br /><br /><br />B. Problematizar<br /><br />B1. Não será a verdade também uma opinião?<br /><br />B2. A libertação do ego não implica a perda de consciência e, consequentemente, de qualquer actividade intelectual?<br /><br />B3. Não será exactamente a existência de uma opinião egocêntrica que possibilita a formulação da verdade?<br /><br /><br />C. Desenvolver<br /><br />C1. Será útil, em primeiro lugar, discernir realidade de verdade. Realidade é o que acontece em um determinado momento, como por exemplo: uma pedra, um carro, um gesto, uma palavra et caetra; e encontra-se subordinada ao tempo. Tirando uma fotografia ao universo apenas captamos o que acontece, e não o porque de acontecer. Ao motivo pelo qual as coisas acontecem chamamos verdade, e à forma pela qual se manifesta tempo. As opiniões pertencem à esfera da realidade, sendo portanto acontecimentos. Neste sentido, é possível verificar que, qualquer consideração que façamos sobre a verdade, será sempre um acontecimento e, consequentemente, uma opinião. De onde resulta que a verdade é inefável, tal como a palavra ou pensamento pedra não pode substituir o objecto em si.<br /><br />C2. Sabemos que a emoção faz parte da construção de todo e qualquer raciocínio. E de facto, o que geralmente entendemos por ego é a vontade, a emoção, o instinto. Assim sendo, não só o homem liberto do ego perderia o seu eu, como também não poderia formular ou entender qualquer noção fosse ela qual fosse.<br /><br />C3. Toda e qualquer opinião é construída por uma vontade, ego. A formulação da existência da verdade não foge à regra. Contudo, o facto de ser essa opinião apenas um acontecimento não invalida a possibilidade de existir, de facto, a verdade.<br /><br /><br />D. Teorizar<br /><br />D1. A realidade acontece, a verdade é.<br /><br />D2. (a segunda frase reduz-se à nulidade, por ser um absurdo; não influindo, consequentemente, em D3.)<br /><br />D3. Os limites dos conceitos temporais, ou seja dos conceitos que existem, tal como a verdade, a liberdade, Deus, et caetra, são infinitos, pelo que não admitem definições. Os limites dos conceitos espaciais, ou seja das noções que acontecem, tal como casa, cão, gato, et caetra, são finitos, pelo que adimtem definições.</span></div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-60198313600527421852008-09-27T11:57:00.000-07:002008-09-27T12:00:07.101-07:00Imanência<div align="justify"><span style="font-size:85%;">Antes de mais, vamos ver uma coisa, eu pensava que a bahía de los cochinos era para brotar diarreias mentais e produtos derivados. Que chochice é esta do “Notas sobre o sobrenatural, seguido de prelúdio ao transcendente”?!?!?! pensei mesmo em nem perder o meu tempo a comentar nada disto. A ideia é TRANSCENDER todo o que já foi escrito e não estar a alimentar oceanos de nulidade, e a ser mais uma ovelhinha. E quer-se textos pulhicas, giestadas de iluminação, torrenciais de loucuras metafísicas. E tu vens com, bla bla bla p’ra qui, bla bla bla p’ra li, já pareces um certo blog de um que eu não digo o nome que escreve só para fazer o favor ao cunhado e para e mulher o deixar em paz. E outra coisa, quantas vezes vou ter de dizer, que estás proibido de escrever mais do que uma página, em letra times 12 e espaçamento de 1,5? Estou a dois passos de te desancar à bigorna e te atestar um calhau bem colocado na fronha do renitente imutável.<br />Cá fica então, e uma vez mais, mais X linhas de imanência, para que vejas como se faz (e tem em atenção, que estou a parar a némesis por causa disto. Ui que estou danado):</span><br /><br /><br /><strong>Imanência<br /></strong><br />Antes de mais andas a perder tempo com algo que já está mais do que definido catalogado arquivado, se não já não se teria dito coisas assim:<br /><span style="color:#000066;">Coisa 1</span> – Transcendência origina da raiz latina “ascender”. (sim também já devias saber isto, se tivesses feito o mínimo de estudo filológico antes da aventura que deveria ter sido e não o foi);<br /><span style="color:#000066;">Coisa 2</span> - Um número transcedente (ou transcedental) é um número real ou complexo que não é raiz de nenhuma equação polinomial a coeficientes racionais. Um número real ou complexo é assim transcendente somente se ele não for algébrico. Pode-se dizer que a "maioria" dos números reais ou complexos é transcendente, uma vez que o conjunto dos números algébricos forma um conjunto enumerável. (Mas p’ra que r*** é que isto me interessa! Já parece que estou a escrever à Nuno Ai que medo só ao vislumbre da ideia..)<br /><span style="color:#000066;">Coisa 3</span> - Num uso coloquial, "transcendência" significa "ir além", e "auto-transcender" significa ir além da forma a priori ou estado do si. Experiências místicas são um estado particular de auto-transcendência, na qual habita a sensação de um si separado<br /><span style="color:#000066;">Coisa 4</span> - Transcendência/imanência, foi usado primeiramente para se referir a relação de Deus com o mundo e de particular importância na teologia. Neste caso transcendente significa que Deus está completamente além dos limites do mundo, em contraste com a noção de que o mundo é a manifestação de Deus<br /><span style="color:#000066;">Coisa 5</span> - O conceito de realidade, exemplos básicos de transcendental estão presentes (insígnia) nas características, designadas transcendentais, de unidade.<a name="Defini.C3.A7.C3.A3o_original"></a> Na filosofia moderna, Kant na sua teoria do conhecimento conceituou a transcendental um novo significado. Preocupado com as possibilidades condicionais do próprio conhecimento. Para ele isto significa conhecimento sobre a nossa faculdade cognitiva com respeito de como os objectos são possíveis a priori. Algo é transcendental se isto tem um papel no modo como a mente "constitui" os objectos e faz possível a nós experimentá-los como objectos em primeiro lugar. Há uma profunda inter-conexão entre a estrutura dos objectos e a sua própria unidade. O que jaz além da nossa capacidade de conhecimento não pode ser legitimamente conhecido. A contra argumentação é que para estar desperto que a fronteira é a fronteira já nos mune de significação do que jaz além dela. "Transcendente" é aquilo que transcende a nossa própria consciência – o que são objectos mais que apenas fenómenos da consciência!<br /><span style="color:#000066;">Coisa 6</span> - Transcendentalismo é o nome do grupo de novas ideias na literatura, religião, cultura e filosofia que prega a existência de um estado espiritual ideal que "transcende" do físico e o empírico somente perceptivo por meio de uma sábia consciência intuitiva. Cá ficam alguns traços do pensamento Transcendentalista, definidos em "The Transcendentalist", de Ralph Waldo Emerson:<br /><em>1. Respeito pelas intuições<br />2. Evitar influências<br />3. Apreciação pela natureza, pelo seu simbolismo<br />4. Ter paixão pelo extraordinário<br />5. Felicidade, afeição, susceptível a ser amado<br />6. Exigência com a natureza<br />7. Unir beleza e poder<br />8. Idealismo<br />9. Admitir as limitações dos sentidos<br />10. Respeitar o governo só se este defende as leis de suas mentes<br />11. Rejeitar doutrinas espirituais<br />12. Morto ou paralisado em essência<br />13. Rejeita a rotina, pois não há muita virtude nela<br />14. Constantemente esperando ordens divinas<br />15. Amantes da sociedade<br />16. Desdém pela educação organizada<br />…</em><br /><span style="color:#000066;">Coisa 7</span> - Metafísica (depois da/além da física) a saber, é o estudo do ser ou da realidade. O que é real? O que é natural? O que é sobrenatural? O ramo central da metafísica é a ontologia, que investiga em quais categorias as coisas estão no mundo e quais as relações dessas coisas entre si. A metafísica também tenta esclarecer as noções de como as pessoas entendem o mundo, incluindo a existência e a natureza do relacionamento entre objectos e suas propriedades, espaço, tempo, causalidade, e possibilidade. A metafísica é algo intocável, que só existe no mundo das ideias. Ética, política, etc., são assuntos que não tratam de seres físicos, mas de seres não-físicos existentes apesar da sua imaterialidade. Princípios de ontologia, gnosiologia e demais familiares são familiares do processo a ter em conta. Para o idealismo, o ente, i.é, o ente transcendental, compõe-se somente de ideias. Para o materialismo, somente matéria. Para o realismo, ideias e matéria. Para o racionalismo, é razão. Investigando o fundamento de todo o conhecimento, pois critica o conhecimento do ente transcendental, a Crítica é a base necessária de todo o saber científico e filosófico, inclusive da própria Ontologia.<br /><span style="color:#000066;">Coisa 8</span> - Epistemologia ou teoria do conhecimento. Haverá realmente a distinção entre o mundo cognoscível e o mundo incognoscível? E finalmente, a questão sobre a origem do conhecimento: Por quais faculdades atingimos o conhecimento? Haverá conhecimento certo e seguro em alguma concepção à priori?<br /><br /><span style="color:#000066;">Coisa última</span> - Imanência (de "existir ou permanecer no interior") é um conceito religioso e metafísico que defende a existência de um ser supremo e divino (ou força) dentro do mundo físico. Este conceito geralmente contrasta ou coexiste com a ideia de transcendência. Na Cristandade, o Deus transcendente, (que transcende (ultrapassa) as eras do mundo), santo e omnipotente, que não pode ser alcançado ou visto, por ser atingido pela primariedade imanente no Homem-Deus. Outro significado de imanência e algo que esta contido no interior, ou permanece dentro dos limites da pessoa, do mundo, ou do si, que permeia todas as coisas que existem.<br /><br /><a name="Enfoque_medieval"></a><a name="Uso_coloquial"></a><a name="Origens"></a><a name="Sobre_a_origem_da_palavra_.22Metaf.C3.AD"></a><a name="Liga.C3.A7oes_externas"></a><a name="Teoria_do_Conhecimento"></a><a name="Bibliografia"></a><a name="Tzimtzum_na_teoria_cabal.C3.ADstica"></a><a name="Dzogchen"></a><a name="M.C3.A9todos_alternativos"></a>o ser divino, a coisa, é um simples facto da própria existência como uma potencialidade. Refere-se a algo além do que a transcendência estabelece. Os limites da experiência do possível, desacontecem.<br /><br /><a name="Etimologia"></a><a name="Refer.C3.AAncias"></a><em>Eu Amanuel subscrevo.</em><br /><br /><br /><span style="color:#000066;">Sim, sim eueqsou e tal 28º de setembro do oitavo ano do terceiro milénio, se queres mesmo fazer algo transcendente, embrenha-te numa epopeia que se banhe na imensidão do ainda desconhecido e deliciosamente sombrio, do género:</span> <br /><br /><em>- Existem muitas opiniões, mas apenas uma verdade. Eu posso ter pensado momentaneamente sobre o quão difícil é para livrar-se do próprio ego, e que a existência sem a individualidade de consciência seria sem sentido, mas...</em></div>rogériohttp://www.blogger.com/profile/15616411237210416160noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1115374565288153354.post-90063496487534138932008-09-25T15:29:00.000-07:002008-09-25T15:35:37.814-07:00Notas sobre o sobrenatural, seguido de prelúdio ao transcendente<div align="justify"><span style="font-size:130%;"><strong>Introdução</strong><br /><br />Sobrenatural é algo que se sobrepõe à ciência (no seu sentido mais lato), ou à natureza? Considerando que tudo é natureza, dizer que algo a extravasa é um absurdo, portanto sobrenatural é algo que escapa à explicação científica, o que não significa que não possa ter explicação científica, e menos ainda que não tenha explicação natural. Ora, se um determinado fenómeno tem lugar na natureza possuiu obrigatoriamente explicação natural. Desta forma nada é sobrenatural, quanto muito poder-se-ia dizer sobrecientífico. Parece-me então mais rigoroso considerar que a designação sobrenatural se aproxima mais da intenção de expressar algo que é fora do normal, vulgar. Neste sentido, nem a ciência teria mãos a medir para explicar todos os fenómenos invulgares que, ao longo do dia, nos ocorrem. Acontece que, nem sempre que as lanzudas viram à esquerda, ao invés de virarem à direita como habitualmente fazem, aparece alguém a reclamar o prémio do desafio de Randi. Não desta forma displicente, a exaltação do sobrenatural acontece mais predominantemente quando as consequências da constatação favorável implicam a consideração da existência de espíritos, seres extraterrestres, unicórnios alados, demónios sulfurosos, anjos violadores, et caetra. Ainda que, eu não possua qualquer relutância em dizer que eles existem, devo ressalvar, no entanto, que as suas existências me fazem tanta falta como as suas inexistências e vice-versa. O que não deve ser, de todo, a atitude de quem procura discernir a importância do sobrenatural na vida do homem médio.<br /><br /><br /><strong>Desenvolvimento</strong><br /><br />De uma forma, ou de outra, tudo o que existe justifica a sua subsistência no caso útil em que proporciona à contingência do real. Do geral ao facto, também o fenómeno sobrenatural, ou mais historicamente o culto hereditário do sobrenatural, ocupa um espaço que o homem genérico decide enquadrar na sua perspectiva do mundo. Desta forma, o sobrenatural acaba por ser um alicerce incontornável, quer pela sua afirmação, quer pela sua constante negação. Pelo que interessaria questionar qual a sua essência, não fosse esta questão existencial, geralmente de carácter questionável eficácia também, quando ao caminho que paulatinamente trilho será de maior orientação procurar descobrir a sua génese. Se o que no caso do sobrenatural se denota é a contraposição de um caso à natureza, mais concretamente ao saber assente, vulgar da mesma, justamente se retira daí a noção que o sobrenatural se posiciona, à priori, contra o conhecimento empírico, cientifico, religioso, metafísico, et caetra, do mundo. Podendo-se dizer, no entanto, que se trata de um filho renegado da ciência, porque, precisamente, se nasce da curiosidade e tentativa de explicação de um fenómeno. Um forma portanto, ainda que se possa dizer rudimentar, de gerar conhecimento contudo. Importa, então, discernir o nódulo que determina a separação do culto sobrenatural da ciência propriamente dita. Neste aspecto apenas a assumpção de carácter dogmático poderia proporcional tal ruptura, e, a contribuir para tal está a defesa das referidas visões dos fenómenos. De notar o facto de os fenómenos sobrenaturais se encontrarem geralmente alicerçados em visões e não em outras provas materiais, porventura até mais sólidas. O facto é que as visões e outras experiências sensoriais de grau avançado surgem, não raramente, como provas associadas à construção de um saber dogmático. O fenómeno surge sempre de uma forma acabada, ou seja, aparece um anjo e não apenas uma pena, aparece uma nave espacial e não apenas uma peça qualquer dessa nave, aparece um fantasma e não apenas a sua roupa. Este tipo de fenómeno nunca deixa dúvida na sua descrição, ou é sobrenatural, ou não é natural. O que, de resto, não esta de acordo com a experiência simples da realidade. Quando, por exemplo, um homem médio em uma rua comprida pensa ver um familiar entre os transeuntes, que posteriormente se revela afinal ser um estranho. Esta situação tão vulgar vista à luz do sobrenatural não poderia ter outro desfecho que não fosse afirmar-se que a pessoa avistada era não só um familiar, como de certeza, um que havia já morrido. A acrescentar a isto surge, não sem maior espanto, a circunstância de que para se identificar fenómenos sobrenaturais seria certamente necessário possuir um vasto conhecimento de tudo o que não é sobrenatural, de forma a não existirem equívocos. Seria por demais risível surgir, hoje, uma cátedra científica de renome a afirmar o helicentrismo. Acontece que no culto sobrenatural não se colocam sequer este tipo de questões, a vontade moral de afirmar o dogma não permite concessões.<br /><br />Conceitos a reter da síntese:<br /><br />I. O sobrenatural ocupa um espaço legítimo na realidade.<br />II. O sobrenatural nasce da ciência, enquanto busca de conhecimento, ainda que dela se separe para abraçar o dogmatismo, o que pode indiciar a germinação de um carácter moral.<br /><br />Os fenómenos sobrenaturais caracterizam-se por surgirem sempre aos olhos dos crentes como factos acabados, para que preencham os requisitos do dogmatismo.<br /><br /><br /><strong>Prelúdio ao transcendente</strong><br /><br />O uso da noção de infinito permite uma série de extrapolações arbitrárias acerca de todo o tipo de assuntos. Facto esse que se assume determinante ao desfecho absurdo de todas as deduções lógicas. Considerando a redução ao relativismo, ou a explosão ao absoluto, todos as deduções podem ser atacadas de tal carácter aparentemente libertador, mas que, contudo, se revela imprudente, fútil e viciado. Também o entendimento de transcendente surge, geralmente, afectado por esta displicência. Aqui, porém, importa contrariar tal tendência e assumir o transcendente como escada sem fim à vista, ao invés de degrau inacabável. Situação em que o grande espinho reside na dificuldade de conseguir conciliar duas necessidades:<br />I. Ser um observador independente. <p>II. Conseguir uma lei universal.<br />A primeira implica que o objecto de estudo do observador nunca poderá ser todo o universo, mas somente uma parte dele, da qual se possa ele abstrair. A segunda exige que também o observador seja abrangido pela lei que formula. Nesta aparente contradição reside a génese do infinito, que não passa de um paradoxo. Ou vejamos, toda e qualquer visão necessita de um observador, a natureza é-nos chegada pelos sentidos, contudo, nós fazemos parte da natureza, pelo que somos uma parte de si a observar o restante, partindo de um corpo com certas capacidades. Compreendendo isto devemos ser capazes de adivinhar as suas limitações. Certamente que muitas, contudo, neste caso da concepção de infinito, interessa a limitação do tamanho, ou melhor, a nossa orientação para delimitar partes do universo, quando o universo é um todo. A ideia de infinito diz-nos que uma maça é do tamanho de um carro, e que um carro é do tamanho de uma formiga, e que uma formiga é do tamanho é do tamanho do universo. Tendo isto em atenção, penso que deveríamos ficar por aqui e regressar ao transcendente. Retrocedendo, portanto, à aparente contradição atrás referida, importa clarificar que, não se podendo provar a sua impossibilidade, deve-se assumir possível a formulação de uma lei universal por parte de um simples observador. Com todos estes factores reunidos, pode-se então iniciar a busca da transcendência. Avaliando simplesmente a palavra, temos que ela se refere à passagem além do normal, do ordinário e vulgarmente conhecido. O que não implica, apesar de abranger essa noção, que passar além seja ultrapassar a natureza, aliás, da comparação de transcendência com sobrenatural, pode-se retirar que, ao contrário do sobrenatural, transcendência escusa, ou perde, para o geral a implicação de um plano extranatural. Pura e simplesmente podemos dizer, de uma corrida de cem metros, que o atleta vencedor conseguiu, para além da vitória, transcender a marca do recorde mundial. O que nos dá a ideia de que o transcendente é transitório e que, ainda que o possa não ser até ao infinito, se apresenta apenas como objecto de mediação. Que é o que acontece quando se entra pelo caminho mais corriqueiro e desinteressante da palavra. Quando no fundo o que interessa é a transcendência no sentido em que a mesma, para além de representar a ultrapassagem de uma fasquia, envolve também a transformação após essa fasquia, ou seja, a transcendência da realidade. De facto são inúmeras as concepções que nos levam para novos mundos, como os universos paralelos, a metafísica, o Reino de Deus, a Terra Média, A Terra do Nunca, O Pais das Maravilhas, et caetra. Contudo, em todos estes, continua a realidade tal como a conhecemos a existir, ou seja, tal como existe, salvo raras excepções discutíveis de alguns iluminados, um estado em que a realidade inteira tenha transcendido para dar origem a uma nova realidade. A realidade por assim dizer não se transcende, tranforma-se, mas na esteira de um trilho ininterrupto, sem novos degraus. O que nos deixa apeados em uma estação desinteressante. Justamente porque apenas nos importa a mudança que vai ao fundo da essência e refunde as suas bases.</span></p></div>Nuno A.http://www.blogger.com/profile/08500039602176659704noreply@blogger.com0